Doses maiores

18 de agosto de 2014

As eleições presidenciais e a ilusão democrática

    Latuff
A morte de Eduardo Campos desorganizou o cenário das eleições presidenciais. As primeiras pesquisas indicam Marina Silva com boas chances de sair vitoriosa. Mas a verdade é que permanecemos com mais do mesmo. Não apenas quanto a nomes e propostas.

É o próprio sistema político que se mostra cada vez mais ilusório. Como diz o título de um artigo de Slavoj Zizek, “Nosso inimigo é a ilusão democrática”. Ao comentar as limitações da busca por transformações pela via eleitoral, por exemplo, o texto afirma:

Os eleitores não votam para decidir quem será proprietário do quê, ou para decidir sobre as relações entre os trabalhadores numa fábrica. Essas coisas são deixadas entregues a processos fora da esfera política, e é ilusão supor que essas coisas possam ser mudadas com, simplesmente, alguma ‘ampliação’ da democracia: por exemplo, criando bancos ‘democráticos’ controlados pelo povo.

Mudanças radicais nesse campo têm de ser feitas fora da esfera de instrumentos democráticos, como direitos humanos e outros. Esses instrumentos democráticos têm um papel positivo, é claro, mas é preciso ter em mente que todos os mecanismos democráticos são parte de um aparelho de estado burguês previsto para garantir, sem perturbações, o funcionamento da produção capitalista.

Badiou acertou ao dizer que o nome do pior inimigo, hoje, não é “capitalismo”, “império”, “exploração” ou coisas do tipo, mas, sim “democracia”. Hoje, o que impede qualquer genuína transformação das relações capitalistas é a ‘ilusão democrática’, a aceitação de mecanismos democráticos burgueses como únicos meios legítimos de mudança.

Estas conclusões podem não valer para qualquer lugar e momento. Mas no Brasil atual, batem na nossa cara.

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