Doses maiores

2 de outubro de 2017

O Capital pode sofrer de apendicite?

Em um famoso capítulo de “O Capital”, Marx fala sobre a transição entre antigos processos produtivos e aqueles sob a lógica do capital:

Na manufatura e no artesanato, o trabalhador se serve da ferramenta; na fábrica, ele serve à máquina. Lá, o movimento do meio de trabalho parte dele; aqui, ao contrário, é ele quem tem de acompanhar o movimento. Na manufatura, os trabalhadores constituem membros de um mecanismo vivo. Na fábrica, tem-se um mecanismo morto, independente deles e ao qual são incorporados como apêndices vivos. 

Na mesma obra, Marx apresentou o conceito de fetichismo da mercadoria para explicar o caráter mistificador da economia capitalista. Vivemos sob uma forma de produção em que as relações humanas são cada vez mais intermediadas pelas mercadorias.


Enquanto elas circulam livremente pelo planeta, a enorme maioria de seus produtores vive isolada em suas fronteiras. Enquanto as mercadorias têm uma vida social, nós somos meros portadores de suas marcas, especificações, cores, modelos.

Esse fetichismo se revelava mais claramente no consumo. Agora, talvez, ele fique mais evidente, assustador e perigoso no nível da produção. Os locais de trabalho seriam dominados quase inteiramente por coisas robotizadas.

A Quarta Revolução Industrial pode ser a radicalização da redução dos trabalhadores aos “apêndices” a que Marx se referiu 100 anos atrás. Só que, agora, o Capital pretende extirpá-los.

Na verdade o que os capitalistas tomam por apêndices são órgãos vitais. Sem eles, sua exploração simplesmente não funciona ou funciona muito mal. O capitalismo é usuário dependente da exploração do trabalho humano.

Para tentar entender melhor essa questão, leia Robôs não ficam desempregados.

Leia também: Nós e os robôs, os robôs e nós. Os robôs e os robôs

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