Doses maiores

2 de agosto de 2017

A economia política da “pós-verdade”

Desde Marx, sabemos que no capitalismo as mercadorias valem por sua capacidade de troca e não por sua utilidade. É a ditadura da lei da oferta e procura. É por isso que o preço de um remédio que curasse o câncer, por exemplo, seria definido por sua abundância ou escassez, jamais pela necessidade de curar o maior número de pessoas.   

Essa predominância do valor de troca sobre o valor de uso vem tomando conta de tudo o que se transforma em mercadoria há séculos. Mas numa sociedade comandada pelo capital, o próprio dinheiro deixou de ser meio para adquirir utilidades. Passou a ser um fim em si mesmo.

Agora, façamos um paralelo com a elaboração de Jean Baudrillard, para quem a partir de um certo momento, todos os signos se permutam entre si, sem se permutarem por algo real. Não passariam de símbolos a simbolizar outros símbolos, sem jamais chegarem ao real que pretendem simbolizar.

Neste caso, ficaria fácil entender a chamada “era da pós-verdade”. Ou seja, tal como as outras mercadorias, as informações e notícias também perderam relação com sua utilidade prática.

Já não interessa saber o quanto de verdade há numa informação. Apenas o quão rápida e amplamente ela circula. Quanto mais cliques, mais ela vale. Os algoritmos dos monopólios digitais que remuneram pelo volume de acessos não deixam dúvidas sobre isso.

Tudo isso é um resumo grosseiro de uma resenha sobre o livro “Fenomenología del fin. Sensibilidad y mutación conectiva”, do filósofo italiano Franco “Bifo” Berardi. O texto está disponível aqui. Vale a pena ler. Só não dá pra garantir que seja verdade.

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2 comentários:

  1. Boa abordagem estabelecendo a relação desde a época de Marx sobre a mercadoria chegando até os nossos tempos da informação digital.

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  2. Li o texto citado. Muito original, interessante e principalmente preocupante a desvinculação do real da semiótica capitalista.

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