Doses maiores

4 de agosto de 2017

A economia política da “pós-verdade” (2)

Em 12/05, o consultor da Associação Nacional de Jornais, Carlos Alves Müller, publicou artigo no Globo comentando casos de crimes transmitidos ao vivo pelo Facebook:

O problema de fundo é que só humanos podem discernir o que algoritmos não detectam. Redes sociais e congêneres se negam a reconhecê-lo, pois isso implica admitir que são empresas de mídia e não plataformas (o que tem consequências, inclusive jurídicas), abala seu “modelo de negócio”, causando uma explosão de custos. É preciso gente para produzir e editar conteúdo, evitando que crimes sejam praticados e exibidos, para que o anúncio vá para o público desejado, e não para outro seguidor de canais criminosos. É preciso gente habilitada para fazer jornalismo conforme as boas práticas numa sociedade democrática. E é preciso gente educada e com senso crítico para entender a importância dessas diferenças e não aceitar o que o algoritmo imoral lhe oferece.

O texto reflete o conflito de interesses entre os monopólios do jornalismo e os da interação virtual. Mas recente notícia publicada na Rede Brasil Atual sugere que esse embate não opõe forças tão antagônicas assim:

Em 7 de abril, a agência Bloomberg noticiou que o Google estava trabalhando diretamente com o Washington Post e o New York Times para “checar os fatos” de artigos e eliminar “notícias falsas”.

Meses depois, a Google anunciou medidas para impedir que usuários acessem “notícias falsas”. Resultado, “o tráfego global de um amplo leque de organizações de esquerda, progressistas, contra a guerra ou em favor dos direitos democráticos teve queda significativa”.

Não seria surpresa se esta também fosse classificada como mais uma notícia falsa.

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