Doses maiores

16 de setembro de 2016

Sobre provas, convicções e hóspedes indesejáveis

Em 14/09, um grande grupo de crianças e jovens negros circulava por Copacabana. A polícia foi chamada para reprimir um suposto arrastão.

Cerca de 40 menores foram detidos. Nada foi encontrado com eles que justificasse as acusações de roubo.

A polícia não precisava de mais provas contra o grupo que o racismo que alimenta suas convicções e as dos que a acionaram.

A casos como esses correspondem exemplos em que a impunidade preserva criminosos comprovados, mas que têm a cor de pele e a classe social consideradas adequadas.

No mesmo dia do “arrastão” de Copacabana, Lula da Silva foi acusado de corrupção pela Operação Lava-Jato. Não há provas, disseram os acusadores, só convicção.

Os protestos de Lula são legítimos. Mas a perseguição política de que ele é vítima tem motivos muito específicos. Não se trata do que seu governo fez ou deixou de fazer. Mas de suas origens sociais e históricas.

Alguém que nasceu na Senzala, liderou greves e presidiu um partido de esquerda jamais conquistará a confiança da Casa-Grande. Ainda que nunca tenha faltado docilidade no tratamento que dispensou a seus proprietários.

É por isso que a regra que destina tratamento injusto ao andar de baixo abriu uma exceção para fazer o mesmo no andar de cima, desde que os atingidos sejam hóspedes que se tornaram muito inconvenientes.

Mas há um crime pelo qual Lula pode ser condenado com abundância de provas. É a convicção de que deve permanecer ao lado dos que jamais toleraram sua gente.

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