Doses maiores

28 de agosto de 2016

O Antropoceno e Chernobyl

Em 27/08, começou o 35º Congresso Internacional de Geologia, na África do Sul. No maior evento dessa área científica, ganha força a proposta de denominar “Antropoceno” a atual era geológica.

Segundo a tese mais aceita, essa fase geológica começou no século 20, quando a humanidade teria passado a afetar o destino do planeta tanto quanto placas tectônicas e vulcões.

Um exemplo nada tranquilizador desse poder recém-adquirido seria a catástrofe nuclear ocorrida em 1986, em Chernobyl, Ucrânia. Em 2012, o músico e pesquisador sonoro Peter Cusack lançou o livro “Sons de lugares perigosos”, que descreve a paisagem sonora predominante no lugar.

Os ruídos registrados indicam que há muitos pássaros e outros animais circulando pela região. Mas, após 30 anos, a radiação continua a impedir a presença humana. Por outro lado, assusta ouvir o zumbido permanente de cabos de alta-tensão que não puderam ser desligados.

Mais recentemente, drones foram enviados para fazer imagens de Chernobyl. São cenas deprimentes. Um parque de diversões entregue à ferrugem, fábricas fantasmas, refeições interrompidas em mesas empoeiradas...

Mas não devemos temer apenas um apocalipse nuclear, apesar de Fukushima e das cerca de 450 instalações atômicas espalhadas pelo mundo. Trata-se das muitas escolhas desastrosas que fazemos há mais de um século, incluindo as apostas soviética e chinesa no sujo desenvolvimento capitalista.

Largo uso de combustíveis fósseis, generosas doses de agrotóxicos, grandes hidrelétricas criando lagos de gás metano, desmatamento liberando novas doenças... O que não faltam no Antropoceno são alternativas do tipo “Escolha a catástrofe”.

Não é difícil imaginar um planeta vazio de pessoas, enquanto poderosos fios elétricos zumbem levando energia para ninguém. 

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