Doses maiores

19 de agosto de 2016

Museu do Amanhã, Museu da Amnésia

Uma das atrações mais celebradas das Olimpíadas do Rio de Janeiro é o Museu do Amanhã, no porto da Praça Mauá. Mas o nome da instituição parece trair a intenção de apagar um passado bem inconveniente.

A começar pelas “maravilhas” olímpicas, que procuram apagar da região portuária os traços deixados pelo desembarque de milhões de escravos ao longo de séculos.

Mas há outros pontos cegos dessa memória histórica de dor e resistência espalhados pela cidade carioca.

Em Jacarepaguá, por exemplo, apartamentos destinados aos jornalistas durante os Jogos foram construídos sobre um cemitério de escravos. No mesmo local, o Quilombo do Camorim teve parte de suas instalações comunitárias demolidas pelas obras.

O Riocentro sedia modalidades como levantamento de peso, tênis de mesa, boxe e vôlei. Foi lá que, em 1981, durante um show do 1º de Maio, militares do Exército tentaram explodir uma bomba para causar ferimentos e mortes entre os cerca de 20 mil presentes.

No Complexo Esportivo de Deodoro ficam um estádio e um centro aquático. Mas nos anos 1970, suas dependências foram usadas para torturar e matar militantes de esquerda. Entre eles, Chael Charles Schreier e Severino Viana Colou.

Também de triste memória é o Aeroporto do Galeão. Porta de entrada para as Olimpíadas, em suas instalações Stuart Angel foi torturado até a morte por membros da Aeronáutica.

Nenhum desses lugares presta qualquer homenagem a esses heroicos sacrifícios por liberdade e justiça social.

Nada mais coerente, portanto, que governos e mídia celebrem um museu que pretende olhar para o futuro, enquanto seus idealizadores tentam apagar um passado tão vergonhoso quanto violento.

Leia também: As maravilhas do porto para os atuais escravocratas

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