Doses maiores

16 de fevereiro de 2016

As sujeiras da luta de classes

Pedro Ferreira de Souza é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Em 03/02, publicou na Folha artigo sobre a desigualdade social brasileira. Ele utilizou informações do imposto de renda para medir a concentração da riqueza nacional desde 1920.

Souza concluiu que durante boa parte desse tempo, incluindo as últimas décadas, a desigualdade social sempre foi muito alta. Ainda que, segundo ele, tenha havido “idas e vindas abruptas”.

É o caso dos aumentos expressivos da desigualdade verificados nos primeiros anos das ditaduras do Estado Novo e de 1964. Ou das quedas ocorridas nos anos 1950, no governo Juscelino, e entre o final da década de 1980 e a segunda metade dos anos 1990.

É provável que um fator explicativo importante para essas variações seja a dinâmica da luta de classes.

As ditaduras buscaram aumentar a desigualdade social reprimindo violentamente os trabalhadores organizados. Já os anos JK e o final da década de 1980 sucederam períodos de grandes greves e mobilizações de trabalhadores.

O Estado Novo e a ditadura militar surgiram como reação violenta e conservadora à mobilização dos trabalhadores. O Plano Real reagiu às lutas do período pós-ditadura, trocando estabilização monetária por retirada de direitos, privatizações e muito desemprego.

As políticas sociais petistas aproveitaram a crise do Real para aumentar a distribuição de renda sem mexer na riqueza. Agora, uma e outra devem receber novo impulso concentrador com a crise do lulismo.

O trágico é que essa ofensiva parta de um governo que, eleito na condição de aliado dos explorados, passou a comportar-se como seu capataz. É o lado mais sujo da luta de classes.

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