Doses maiores

22 de junho de 2015

O Papa Maquiavel

Seria interessante explorar as possibilidades dramatúrgicas do processo de condução do cardeal Bergoglio à condição de Papa. Poderia resultar em filme, peça, livro...

É só imaginar o futuro Francisco 1o circulando entre os cardeais no conclave decisivo. Um pequeno grupo o acompanha argumentando mais ou menos assim:

Vocês querem tirar esta enorme e antiguíssima instituição do ostracismo? Deter a onda de desprezo que ela provoca no mundo todo, mesmo entre seus fiéis?

Pretendem impedir que a maior igreja do Ocidente seja arrastada pela crise civilizatória que começou com a grande depressão econômica de 2008?

Ambicionam que o Vaticano volte a ser ouvido com respeito, não pela hipocrisia dos governos, mas pela esperança de vastas parcelas da população do planeta?

Vocês realmente acham que vamos nos desfazer da pecha de abusadores de crianças e príncipes religiosos corruptos nos apoiando na infabilidade divina? Nos escondendo das grandes questões dos dias atuais por trás de velhas bulas do passado?

Desculpem, mas achamos que vocês estão sem saída. Temos certeza de que esse argentino ousado aqui pode dar um jeito nisso tudo uma vez consagrado.

Poderíamos dizer que ele será nosso Obama, Lula, Kirchner... Mas, calma, respirem aliviados porque ele será nosso Maquiavel.

De qualquer maneira, ou aceitam isso, ou podem ir se acostumando a longos anos de insignificância política, fiéis cada vez mais raros e diligências judiciais batendo em nossas portas.

Dois anos depois, alguns daqueles cardeais podem ter se arrependido de seu voto. Mas a maioria, com certeza, respira aliviada do alto de seu poder intacto. Por enquanto, o final do drama seria feliz. Só para eles.

Leia também: Papa Francisco, o leopardo

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