Doses maiores

17 de outubro de 2014

O Ebola e a militarização do racismo

Pior que a epidemia do Ebola é a onda de preconceitos e racismo que a acompanha. Mesmo onde ela está longe de chegar, já se cobram medidas que miram menos a doença que os possíveis doentes. Principalmente, os negros.

As condições que fizeram surgir o Ebola na África nada têm a ver com “atrasos tribais” ou “costumes primitivos”. É a ação da “civilização” branca que destrói habitats e trouxe para perto dos seres humanos doenças que estavam isoladas.

Mas a secular ideologia racista é imune a argumentações racionais. O pânico cria o preconceito. E este é alimentado pela grande mídia e pelos governos para justificar mais controle e repressão sobre as populações pobres.

Barack Obama acaba de declarar o Ebola “um grave perigo para os Estados Unidos”. Pretende enviar tropas americanas à África com o pretexto de apoiar o trabalho dos agentes de saúde internacionais. Ao mesmo tempo, aprovou no Conselho de Segurança da ONU uma resolução que considera a epidemia uma “ameaça à paz e à segurança internacionais”.

No caso do HIV, os homossexuais não eram as únicas vítimas do vírus, mas tornaram-se o principal alvo dos preconceitos. A intolerância que os isolou também impediu a prevenção e a pesquisa de medicamentos por muitos anos.

Com o Ebola, o racismo se volta contra as populações africanas. Os membros da cúpula da ONU dizem que é preciso impedir que a doença se espalhe. Na verdade, pretendem isolar a epidemia na África. Nem que isso custe a vida de milhões de africanos. Pela ação do vírus, mas também pela força das armas.

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