Doses maiores

27 de outubro de 2014

Meritocracia? Ninguém merece

“Meritocracia” vem do grego e define o governo pelos que merecem exercê-lo. Ou seja, devem reinar os que são nobres por suas virtudes, não pelo sangue de sua família.

Um dos primeiros pensadores a defender esta ideia foi Confúcio, no século 6 Antes de Cristo. Pouco depois dele, Platão e Aristóteles.

Mas a hereditariedade nos governos resistiu até o século 19, mesmo após muito sangue azul ter sido derramado por várias revoluções.

Hoje, ninguém questiona a ideia de que o poder deve ficar com os que fizeram por merecê-lo. Herdar cargos públicos, por exemplo, está fora de cogitação.

O mesmo vale para o acesso a bens e riqueza. Estes devem ser desfrutados por quem superou obstáculos, aperfeiçoou-se, mostrou talento e determinação.

O problema é que na competição capitalista, os bem-nascidos continuam a ser os grandes beneficiados.

Nascer em uma família e classe social capazes de oferecer os valores e a estrutura adequados à selvagem competição capitalista faz muita diferença.

Como o capitalismo tem uma forte vocação para a desigualdade social, é cada vez maior o número de “derrotados”, mesmo entre os que nasceram em berço de ouro.

É por isso que desde meados do século 20, as teorias políticas defendem programas públicos compensatórios: cotas raciais, subsídios sociais, renda mínima etc. Políticas recomendadas por instituições nem um pouco socialistas, como o Banco Mundial.

Nas últimas eleições, alguns setores sociais derrotados nas urnas consideraram a existência desses programas uma ofensa à justa disputa dada pelo mercado. Estão sepultados no século 19, sob o risco de ressuscitarem na Antiguidade. São uma espécie de “bem-morridos”.

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