Doses maiores

3 de dezembro de 2013

Os “black blocs” suburbanos e o racismo sem máscara

Uma das restrições determinadas pelo Estado de Sítio é o direito a reuniões. Basta juntar mais de três para ser alvo da repressão estatal.

Em 02/12, Douglas Belchior publicou em seu blog “Shopping Vitória: corpos negros no lugar errado”. O relato é sobre a repentina presença de muitos jovens negros em um centro comercial da capital potiguar.

Eles vinham de uma festa funk que havia sido interrompida pela polícia. Para fugir à violência fardada, vários acabaram entrando no shopping. Foi o bastante para que consumidores e lojistas chamassem a polícia alegando a ocorrência de um “arrastão”.

Os “intrusos” foram obrigados a tirar as camisas e sair do local de mãos na cabeça e em fila indiana. Tudo isso sob forte escolta policial. E debaixo do aplauso dos frequentadores do shopping.

Em 20/11, Dia da Consciência Negra, um suposto arrastão criminoso foi reprimido por um violento arrastão policial numa praia da zona sul carioca. Logo depois, ficou decidido que ônibus vindos de bairros pobres seriam revistados.

A medida foi comentada pela antropóloga Julia O’Donnel na edição do Globo de 01/12. Segundo ela, a revista de ônibus “caberia perfeitamente nos jornais que pesquisei em 1922”.

Não estamos sob Estado de Sítio. Nem em 1922. Mas nada disso conta para quem tem a pele escura. Ajuntamentos de negros distantes de seus precários locais de moradia continuam a ser considerados perigosos.

Eles não precisam protestar, quebrar vitrines ou esconder os rostos para serem tratados com tanta ou mais violência que os black blocs. E, nesses momentos, o racismo estatal e a discriminação social também deixam de usar suas máscaras.

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