Doses maiores

30 de setembro de 2013

Aquecimento global: elites, abaixo de zero

Em 27/09, a imprensa mundial divulgou um alerta do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas: a influência humana é decisiva nas desastrosas alterações climáticas recentes.

Pouco antes do anúncio, um estudo teria mostrado que houve uma desaceleração do aquecimento global entre 1998 e 2012. Mas a hipótese foi rejeitada pelo texto.

O IPCC confirma a interrupção nos aumento dos níveis de calor, mas isso não invalidaria as tendências já verificadas. “A temperatura da superfície da Terra em cada uma das últimas três décadas foi sucessivamente mais quente do que qualquer década anterior desde 1850, no hemisfério Norte”, afirma o relatório.

A polêmica sobre a origem humana dos problemas climáticos já deveria estar superada. Não está porque interessa às principais potências manter os elevados lucros da indústria suja. Há quem ache que também existam interesses econômicos por trás da tese do aquecimento global.

É provável. Mas muitos outros indicadores mostram que nosso atual modo de vida é insustentável. Somos a única espécie capaz de transformar o meio. Espalhamos nossas formas de produção por praticamente todo o planeta. Portanto, quando agimos, geramos consequências em larga escala.

Em 2000, o Instituto Mundial de Pesquisa Econômica do Desenvolvimento, da Universidade da ONU, divulgou pesquisa revelando que os 2% mais ricos da população mundial detinham mais de 50% da riqueza do planeta.

Desse modo, grande parte dos desastres que nossa espécie provoca favorece apenas a esta minoria. Elite minúscula que acredita ser superior ao restante de nós. Seu apego aos lucros e ao poder demonstra que representam o exato oposto disso. São subgraduados em humanidade.

27 de setembro de 2013

Dívida pública já era fraude na época de Marx

Muito boa a entrevista que Maria Lucia Fatorelli concedeu à revista Poli, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, da Fiocruz. Na edição no 30 da publicação, a coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida mais uma vez alerta sobre a fraude chamada dívida pública.

Maria Lucia foi nomeada pelo presidente Rafael Correa para integrar a Comissão de Auditoria Fiscal da Dívida Pública do Equador. O resultado desse trabalho fez o país diminuir em “70% uma dívida sobre a qual não havia comprovação”, diz o texto.

É muito provável que o mesmo possa ser dito da dívida pública brasileira. Essa montanha de débitos duvidosos divide-se em duas dívidas maiores, a interna e a externa. A primeira está hoje em US$ 450 bilhões. A segunda chega e US$ 2,8 trilhões. As duas sugam metade do orçamento público.

Tal como aconteceu no Equador são grandes as chances de que a maior parte dessa dívida seja pura ficção. Seus credores já foram pagos várias vezes. Mesmo assim, continuam a receber recursos que deveriam ir para os serviços públicos, por exemplo.

Mas este mecanismo não tem nada de estranho nem é recente. Já nos anos 1860, Marx citava os títulos da dívida pública como exemplo de capital fictício. No volume 3 de “O Capital” ele afirma que “a soma emprestada ao Estado não apenas não existe mais”. Ela também “não se destina a ser despendida, empregada como capital...”.

Mas os efeitos dessa fraude gigantesca não deixam de ser bem reais. É só olhar para os hospitais, escolas e outros serviços da rede pública.

26 de setembro de 2013

O permanente sacrifício dos indígenas

Matéria do portal Ig afirmaConstrução de rodovias no governo militar matou cerca de 8 mil índios”. A reportagem de Luciana Lima, publicada em 25/09, refere-se a conclusões da Comissão da Verdade, encarregada de investigar os crimes da ditadura militar.

O número mostra que a ação covarde das forças de repressão não atingiu apenas jovens de classe média, como querem alguns defensores enrustidos do regime militar. Segundo o texto, a maior parte das mortes aconteceu em quatro frentes de construção de rodovias.

São estradas construídas na região norte e centro-oeste, como Transamazônica e Perimetral Norte. Não há como chegar a um número exato, mas relatos mostram que as obras representaram “uma verdadeira tragédia para 29 grupos indígenas”.

O desconhecimento sobre tamanha mortandade mostra como uma ditadura é capaz de tornar invisível um verdadeiro massacre racista. Mas a mesma invisibilidade toma conta do que vem acontecendo no Congresso Nacional.

Mesmo sem ditadura, quase ninguém sabe que há um projeto que ataca direitos indígenas em debate. Trata-se de proposta do senador Romero Jucá (PMDB-RR) que atende aos interesses dos ruralistas e do grande capital em geral. Permite liberar terras indígenas, para a instalação de fazendas, minas, hidrelétricas e estradas.

O governo petista é a favor da proposta. Alega que a alternativa é pior: uma emenda constitucional que transfere ao Legislativo a competência de aprovar as demarcações. Com um Congresso dominado por ruralistas e empreiteiras seria um desastre.

Mas esta situação é resultado de um governo que retira sua força da rendição aos poderosos. Que oferece a vida dos mais fracos em sacrifício ao deus genocida do progresso.

24 de setembro de 2013

Robôs, Lênin e Zé Ramalho

Em 16/09, Felipe Moreno publicou “Cada vez mais comuns, robôs passam a ser usados para impulsionar fundos” no site InfoMoney. A matéria refere-se a máquinas programadas para comprar e vender no mercado financeiro.

Diante da rapidez dos investimentos especulativos, robôs seriam capazes de tomar as decisões certas na velocidade necessária. Mas o risco é grande. A matéria diz que “muitos investidores têm medo desse tipo de operação e, por isso, os fundos que utilizam essa estratégia não dizem que o estão fazendo”.

Enquanto isso, reportagem do “Globo Rural” de 08/09 mostrou uma fazenda paranaense cuja produção de leite é toda robotizada. Um computador “acende as luzes, aciona os ventiladores, ordena a limpeza do piso maneja a ordenhadeira, e canaliza o leite diretamente para o tanque de resfriamento”.

As vacas são ordenhadas e higienizadas por braços mecânicos. O proprietário mora a 12 quilômetros da fazenda e acompanha tudo por internete. A maior economia vem da quase inexistente utilização de força de trabalho humana.

No primeiro caso, estamos falando de operações que deveriam exigir o máximo da capacidade de raciocínio humana. No segundo, parecia impossível substituir a habilidade manual na manipulação de mamas bovinas.

Um exemplo revela o quanto há de aleatório e irresponsável na manipulação das tetas do capital. O outro mostra até onde vai a eliminação do trabalho vivo. Em comum, a supremacia absoluta dos interesses dos grandes proprietários.

Bancos, empresas, grandes varejistas, fazendas. Tudo se integra no que Lênin chamou de capital financeiro. Já os que vivem do próprio trabalho levam cada vez mais o que Zé Ramalho chamou de vida de gado.

A “virtude cidadã” que destroça direitos

“Mundo terá 342 milhões de pessoas em situação de pobreza em 2030”, diz matéria de Lucianne Carneiro, publicada no Globo em 22/09. Refere-se ao relatório “Investimentos para acabar com a pobreza”, apresentado na última Assembleia Geral da ONU, em Nova York.

Entre as muitas informações importantes, uma delas diz que a África Subsaariana deve passar o Sudeste da Ásia como a região com maior número de miseráveis do mundo. Em 2030, diz o estudo, a região deverá responder por 80% deles. Ou seja, ao continente negro não bastou ter seus filhos sacrificados às dezenas de milhões para viabilizar o sistema mais rico e cruel da história humana.

Mas, talvez, o mais surpreendente não sejam tais números. Infelizmente, já nos acostumamos a eles. O que deveria chamar a atenção é esta informação:

Uma das principais fontes de recursos para a redução da pobreza vem da ajuda oficial ao desenvolvimento (ODA, na sigla em inglês). O valor chegou a US$ 148,4 bilhões em 2011 e cerca de dois terços vêm de cinco países: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Japão.

A filantropia que vem de cima é assim. Aqueles que doam, emprestam migalhas a si mesmos. Sustentam o sistema que lhes garante fartos banquetes. Para cada dólar ofertado pelo seleto grupo do “ODA”, milhares de dólares mantêm e reproduzem uma gigantesca injustiça social no mundo.

É aquela caridade que Gonzagão afirmava matar de vergonha o cidadão. Ou como disse Virginia Fontes em seu livro “O Brasil e o Capital-Imperialismo”, “forja a ‘virtude cidadã’ que destroça direitos em nome da urgência e da miséria”.

23 de setembro de 2013

Mortes voluntárias e assassinatos em família

Duas matérias interessantes sobre mortes foram publicadas recentemente. A primeira é “Crise econômica de 2008 pode ser causa de milhares de suicídios no mundo”. Publicada pela Carta Maior, a reportagem cita um estudo divulgado pelo British Medical Journal em 17/09. A pesquisa:

... afirma que a crise econômica mundial de 2008 poderia ser a causa do aumento das taxas de suicídio na Europa e nos EUA, especialmente entre os homens, e nos países com maiores níveis de destruição do emprego.

A outra matéria é “Aumento de crimes em família pode ser fenômeno social, dizem especialistas”, publicada por Cleyton Vilarino no UOL Notícias, em 19/09. A reportagem também mostra que, em geral, o assassino suicidou-se após matar os parentes.

Especialistas apontam como possíveis causas “a falta de qualidade de vida nos grandes centros urbanos” e a precariedade das relações de trabalho. É o caso da psicóloga Marina Bazon, da USP Ribeirão Preto, que afirma:

Imagine que você está em uma sociedade na qual a situação de trabalho é muito difícil, com empregos informais e direitos violados. Esse estresse vai ter de sair em algum lugar. Se não é fora de casa, vai ser dentro.

Um e outro fenômeno não parecem ligados. O primeiro acontece em países fortemente afetados pela atual crise capitalista. O segundo, num lugar que não sentiu todos os efeitos dela. Mas em ambos os casos, a morte voluntária está presente. E a ditadura da circulação das mercadorias, também.

Em uma sociedade em que as coisas mandam nas pessoas, morrer pode tornar-se alternativa ao que já não é encarado como viver. 

21 de setembro de 2013

"A vidraça", de Lincoln Secco

A Vidraça
é uma agressão
Olhar cobiçar
Não por a mão!
(Ciro)

Vários setores de esquerda reproduzem um tom cada vez mais ameaçador contra o “vandalismo” em manifestações.

O clima de apoio à violência das ruas começou a virar. Se no auge das manifestações de junho parte expressiva da população se colocou contra a violência policial e defendeu o  direito dos manifestantes até mesmo usarem autodefesa, agora é a própria esquerda que ataca os “vândalos”. Mas como a violência é o substrato de toda política, a ausência do direito de autodefesa devolve à polícia o direito de violentar os manifestantes.

O caráter “pacífico” de manifestações de rua não é resultado dos céus e sim de uma relação de forças. Os manifestantes aceitam a violência da vidraça e, assim, PMs sem identificação na farda “permitem” o desfile pelas ruas em roteiro definido para não “atrapalhar” o trânsito. O que aconteceu em junho é que a relação de forças mudou e as vidraças violentas do luxo capitalista perderam espaço para as pessoas. Mas isto durou pouco.

Agora, com apoio da  esquerda, vamos retornar às letais balas de borracha ou “avançar” para balas democrático-populares do governador petista da Bahia, Jacques Wagner, o qual defendeu os “tiros de advertência” que seu subsecretário de segurança lançou contra o MST.

Quanto à esquerda, reproduzo a mensagem do poeta que assina a epígrafe acima:

“Por que diabos não podemos aceitar que o anarquismo existe, e que dialoga com a massa em momentos de lucidez e horror, e que não tem programa porque o ‘etapismo’ é chato, a ‘revolução permanente’ não tem fim e o ‘acúmulo de forças’ é cansativo?”


Lincoln Secco

20 de setembro de 2013

Uma voz negra, poderosa e comunista

Imagine um negro que cantava bonito com sua poderosa voz de baixo. Um estadunidense que também foi atleta profissional de futebol americano e bom jogador de baseball e basquete.

Este mesmo personagem era ótimo ator de teatro, cinema e musicais. Foi simplesmente o primeiro ator negro a interpretar o personagem Otelo, de Shakespeare.

No cinema, provocou polêmica em “Imperador Jones”, lançado em 1933. O personagem que interpretava matava um homem branco. Algo inadmissível para o racismo estadunidense.

Não fosse o bastante, também foi o terceiro negro a ingressar numa universidade americana. Nada era o bastante para Paul Robeson, um descendente de nigerianos, camaroneses e guinéu-equatorianos, nascido em Princeton, em 1898.

Para deixar os racistas e conservadores em geral ainda mais irritados, Robeson era comunista. O que acabou por render-lhe as piores perseguições. Sua ficha no FBI era a mais extensa entre os artistas investigados.

Em 1956, foi obrigado a depor diante do Comitê de Atividades Antiamericanas. Ele foi firme:

Não estou sendo julgado por ser comunista. Estou sendo julgado por lutar pelos direitos do meu povo, por aqueles que ainda são considerados cidadãos de segunda classe nos Estados Unidos da América.

Recusou-se a assinar uma declaração renegando suas ideias. Ficou no ostracismo, claro. Mas em 1958 voltou coberto de glórias em um grande concerto no Carnegie Hall. Continuou com sua carreira musical até 1965, quando se aposentou.

Robeson morreu em 1976, muito longe de ver a justiça social triunfar em seu país. Um negro governa os Estados Unidos, hoje. Mas sua voz é a de um boneco sentado no colo do imperialismo.

Ouça Robeson aqui.


Leia também: Harriet Tubman, a libertadora negra

19 de setembro de 2013

Jesus e seu irmão, uma dupla radical

Em agosto, um autor iraniano foi entrevistado num programa da Fox News. Por dez minutos, a apresentadora hostilizou Reza Aslan pelo fato de um muçulmano ter escrito um livro sobre Jesus. O barulho acabou colocando a obra entre as mais vendidas nos Estados Unidos.

Trata-se de “Zelote: a vida e a época de Jesus de Nazaré” (sem edição em português). É muito bem escrito e apresenta evidências de que Jesus teria sido um radical. Lutava pela liberdade de seu povo e contra injustiças sociais.

Outro grande personagem do livro é Tiago, o Justo, irmão de Jesus, não reconhecido pela tradição cristã. Segundo Aslan, Tiago foi o mais importante líder judeu depois da morte de seu irmão. E, aparentemente, mais radical que ele.

A assembleia de Jerusalém era liderada por Tiago sob o princípio do serviço aos pobres. Nos escritos que lhe são atribuídos destaca-se a pesada condenação aos ricos:

Ai de vós, ricos, chorai e uivai sob as misérias que estão prestes a desabar sobre vós. Vossas riquezas estão apodrecidas, e vossas vestes roídas pela traça. Vosso ouro e a prata corroídos, e o veneno dentro deles dará testemunho contra vós, comerão sua carne como se fosse fogo.

Mas a bíblia oficial também tem passagens parecidas. Segundo Lucas, Jesus disse:

Ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação. Ai de vós, que estais fartos, porque tereis fome. Ai de vós, que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis. Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus.

Muitos cristãos bem que poderiam trocar a Santíssima Trindade por essa dupla do barulho.

18 de setembro de 2013

Maquiavel e Zé Dirceu

Em 2013, completam-se os 500 anos desde que Nicolau Maquiavel concluiu “O Príncipe”. A obra praticamente inaugurou a ciência política moderna. Meio milênio depois, continua extremamente válida.

O Instituto Humanitas Unisinos publicou uma revista sobre o tema. Trata-se de “A política desnudada. Cinco séculos de O Príncipe, de Maquiavel”, lançada em 16/09. Na edição, em entrevista a Márcia Junges, o filósofo António Bento cita Trajano Boccalini, pensador do século 17:

Os inimigos de Maquiavel consideram-no homem digno de punição porque revelou como os príncipes governam e, assim, instruiu o povo; “colocou dentes de cães nas ovelhas”.

O entrevistado também cita Diderot, para quem o autor de “O Príncipe” teria pintado a verdadeira face do poder desse modo: ”eis o animal feroz ao qual vos abandonareis”.

Por isso, o livro de Maquiavel foi tão censurado e perseguido. Seus inimigos se vingaram confundindo a obra com seu autor. Ser maquiavélico virou sinônimo de político inescrupuloso, autoritário, amoral, cínico, corrupto.

Se há alguém que mereça tais qualificações, hoje, é José Dirceu. Mas tal como aconteceu com o autor italiano, o dirigente petista não inventou a política suja e sem freios morais. Esta forma porca de realismo político tem, no Brasil, a mesma idade do livro de Maquiavel.

O grande erro de Dirceu foi agir como seus antecessores para atingir objetivos pretensamente justos. Seu maior crime, fazer o que fez em nome de propósitos de esquerda. Com isso, facilitou o trabalho daquele animal feroz a que se referiu Diderot.

A esquerda não precisa criar seus próprios lobos. Deve aprender com Maquiavel a colocar dentes de cães nas ovelhas.

17 de setembro de 2013

UPPs: os “smurfs” mostram as garras

“Caso Amarildo: Dois meses depois, 'ninguém sabe, ninguém viu', diz esposa”. Este é o título de  reportagem de Júlia Dias Carneiro publicada pela BBC Brasil, em 15/09. Desde 14 de julho, Elizabete Gomes da Silva e os seis filhos nada sabem do pedreiro que desapareceu na Rocinha.

Milhares de protestos no Brasil e no mundo cobraram "Onde está o Amarildo?" Grandes jornais estrangeiros como New York Times e Le Figaro divulgaram o caso. Mas nem a polícia espera encontrar o pedreiro com vida. Trabalha com duas possibilidades: crime cometido por traficantes ou por policiais militares. Deveria pensar também em crime cometido por policiais em conjunto com traficantes.

À BBC, Elizabete diz que “vem sendo intimidada por policiais e já foi chamada de ‘safada’ e ‘abusada’ ao passar por eles nas vielas da favela”. Seu crime?

Os policiais não gostaram da atitude que a gente tomou. Porque quantos Amarildos já morreram? Quantas pessoas não morreram dentro do morro, e a família não falou nada por medo? A gente botou a boca no trombone, protestou, fechou boca de túnel, entrou ao vivo na TV. Estamos gritando e pedindo justiça.

Até que demorou para que as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) mostrassem sua verdadeira face. Não para os moradores das comunidades onde foram instaladas. Estes já sentem na pele há muito tempo. Agora, o mundo sabe. A pacificação que elas trouxeram é a da repressão, tortura e morte.

Os policiais das UPPs eram chamados de “smurfs” pelo resto da corporação. Seriam otários “dando mole” para “bandidos e vagabundos”. Já podem se sentir respeitados por seus colegas de farda.

16 de setembro de 2013

Moedas que explodem no ar

Há alguns meses, o governo alemão autorizou transações privadas em bitcoin. Na mesma época, o Valor publicou um artigo sobre esta moeda que circula somente em ambientes virtuais. Em “Dinheiro para uma revolução”, Alexandre Rodrigues diz que desde janeiro de 2009, quando foi criado, o bitcoin já “passou por duas bolhas especulativas”.

A última delas aconteceu no início deste ano. Os boatos de confisco do dinheiro de correntistas no Chipre provocaram:

...uma corrida ao bitcoin por europeus, preocupados com a possibilidade de seus governos fazerem o mesmo. Um bitcoin, que valia US$ 10 em janeiro, chegou a US$ 256 em 4 de abril, quando houve o estouro da bolha. Nos últimos três meses, a cotação de um bitcoin se manteve na faixa entre US$ 100 e US$ 120.

Segundo o artigo, o “bitcoin retira os governos da equação. A confiança é entre indivíduos, sem intermediários”. Mas dinheiro circulando sem garantia estatal não tem nada de revolucionário. Muito mais provável é que provoque novas bolhas especulativas.

Na reportagem, Rodrigo Batista, da corretora Mercado Bitcoin, admite que o bitcoin não conta com garantias, como o ouro ou qualquer outro metal. Mas, diz ele, “o lastro de todo o dinheiro, não só o virtual, é cada vez mais etéreo". Está coberto de razão. Afinal, a principal causa da crise de 2008 foi a especulação com investimentos sem lastro.

No capitalismo, o dinheiro deveria ser a mais consistente das mercadorias. Mas, como disse Marx, na sociedade burguesa tudo o que é sólido desmancha no ar. No caso da especulação financeira, não sem antes explodir e provocar imensos desastres sociais.

13 de setembro de 2013

Migalhas em um pote até aqui de mágoa

“Gotejamento” é o nome de uma famosa receita do Banco Mundial para a pobreza. Segundo ela, os pobres ficariam com o que pinga dos suculentos lucros das grandes corporações econômicas. No Brasil, a fórmula ganhou imagem culinária. Durante a ditadura militar, dizia-se: “primeiro, é preciso deixar o bolo crescer. Só depois, dividir”.

Parece que os governos posteriores continuaram a pensar o mesmo. No período lulista, não faltou fermento e farinha. É só conferir os números do artigo “O fim da festa nos emergentes”, de Ricardo Hausmann, publicado recentemente no Valor. Entre 2003 e 2011, enquanto países como Estados Unidos, Reino Unido e Japão cresceram na casa dos 30%, a economia brasileira se expandiu 348%!

Mas que parte desse enorme bolo coube à maioria da população brasileira? Lucianne Carneiro Cleide Carvalho responde em sua matéria “Novo mapa dos negócios”, publicada no Globo em 12/09: “Após crise, receita das 50 maiores empresas do Brasil cresceu o dobro do avanço do PIB”.

Ao mesmo tempo, reportagem publicada na revista Exame em 09/09 diz: “124 pessoas mais ricas do Brasil correspondem a 12,3% do PIB”. Esta minoria microscópica acumula “um patrimônio equivalente a R$ 544 bilhões”. Ou seja, se alguém se lambuzou comendo não foram os trabalhadores.

O tal “gotejamento” parecia estar funcionando até junho passado. De repente, algo fez o copo transbordar e multidões inundaram as ruas. Lembrando a bela canção de Chico Buarque, quando se trata de um pote até aqui de mágoa, qualquer desatenção pode ser a gota d'água.

12 de setembro de 2013

O Capital quer muito te conhecer

“Explorada por consultorias, a neurociência pode contribuir para o bom desenvolvimento de uma companhia”, diz matéria de Luísa Melo, publicada na revista Exame em 30/08.

A reportagem mostra como a ciência que estuda o funcionamento do cérebro humano pode servir a fins empresariais. Para coisas repulsivas como “processos práticos dentro de uma organização” e “otimização de treinamentos corporativos”. Tudo pelo “aumento da produtividade”. Melhor dizendo, pela busca cega por lucros.

Há valiosas palavras como as da neuropsicóloga e fundadora da Tai Consultoria, Inês Cozzo:

A esmagadora maioria das pessoas é mais produtiva entre as 6h e as 10h e entre 16h e 20h. No restante do tempo, o corpo precisa se esforçar mais, então o volume e qualidade do trabalho são menores.

Os intervalos “não produtivos” devem ser trabalhados, diz a consultora. "Salinhas do cochilo", quem sabe? Só se for numa outra sociedade, porque na que vivemos não há salas para sonecas ligeiras e ceder a elas pode acabar em demissão.

Ou seja, o Capital não exige apenas nosso esforço físico. Está atrás de nossos neurônios, também. É como disse Noam Chomsky em “As 10 estratégias de manipulação midiática”:

...o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

Por isso, não se assuste se você olhar no espelho e ver um cifrão...

11 de setembro de 2013

Crise mundial: festa mixuruca, ressaca das bravas

Nos últimos dias, o Valor publicou vários artigos sobre a situação da economia mundial. Nenhum deles muito animador. O mais abrangente é “Marcas de uma crise global”, de Sergio Lamucci, lembrando os cinco anos da quebra do banco Lehman Brothers, ocorrida em setembro de 2008.

Meia década depois, o desemprego segue elevado nos Estados Unidos: são 2 milhões de postos de trabalho a menos do que no começo de 2008. E ainda é preciso criar “entre 7 milhões e 7,5 milhões de vagas para o país voltar ao pleno emprego”.

Ao mesmo tempo, diz Lamucci, “o poder de Wall Street, se não é tão forte como antes do colapso do Lehman, permanece grande o suficiente para impedir a aprovação e aplicação de leis mais rigorosas” contra a especulação financeira.

Mas não é só lá. O artigo “Europa busca o renascimento”, de Assis Moreira diz que o setor bancário europeu equivale a três vezes e meia o PIB da região. No Japão e Canadá, representa duas vezes o tamanho das respectivas economias.

No artigo “FMI faz meia-volta e rebaixa perspectiva dos emergentes”, Chris Giles diz:

O FMI prevê que o crescimento mundial seguirá fraco, com os efeitos da recuperação nos Estados Unidos, Europa e Japão sendo neutralizados pela significativa deterioração das perspectivas de muitas economias emergentes.

Por fim, em “O fim da festa nos emergentes”, Ricardo Hausmann avisa que a mesma dinâmica que fez a farra dos PIB gordos de emergentes como Brasil, China, Índia e Rússia “vai operar no sentido oposto”.

Ou seja, a festa nem foi tão boa, mas a ressaca deve ser das bravas.

10 de setembro de 2013

Dez anos de Bolsa Família: parabéns, Banco Mundial!

“Bolsa Família faz dez anos: exame de paternidade aponta petistas, tucanos e neoliberais do Banco Mundial”, diz o título da reportagem da Folha publicada em 08/09.

A matéria conta que, em março de 2003, o PT realizou um seminário sobre as prioridades do governo recém-conquistado. Um dos participantes era o estadunidense David de Ferranti, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina na época.

Os petistas tinham o “Fome Zero” como seu grande trunfo para minimizar a pobreza no País. Ferranti discordou. Propôs:

...a unificação de ações de combate à pobreza em um programa de renda focado apenas nos segmentos mais miseráveis da população, no qual os beneficiários têm liberdade para usar o dinheiro desde que se comprometam com contrapartidas como a frequência escolar dos filhos.

Nascia o “Bolsa Família”, resultado da unificação e ampliação de programas sociais que os tucanos já vinham adotando. Os pais são vários, mas a mãe do programa tão popular é uma instituição criada em 1944 junto com o FMI para defender os interesses do imperialismo americano e europeu.

Uma famosa receita da instituição para o problema da pobreza no mundo é o “gotejamento”. Os pobres ficam com aquilo que pingar dos suculentos lucros das grandes corporações econômicas. Simplificando, migalhas.

O que vem depois combina com isso. Os tucanos gastavam R$ 3,2 bilhões com seus programas. O Bolsa Família chegou a R$ 21,4 bilhões. Mas o programa equivale a 0,5% do PIB Brasileiro, enquanto o pagamento da divida pública leva quase 21 % só em juros e amortizações.

Portanto, desse bolo de aniversário, a maioria pobre continua com as migalhas.

Leia também: Dilma reafirma pacto conservador

8 de setembro de 2013

O poderoso partido dos quartéis

“PMDB, PT e PSDB igualados na repressão a protesto”, diz matéria do site “Congresso Em Foco”, publicada em 08/09. Refere-se à repressão policial contra manifestantes no Rio, Distrito Federal e São Paulo nos eventos de 7 de Setembro.

Segundo o texto de Edson Sardinha, foram dezenas de feridos e 160 pessoas detidas nas três capitais. Em cada uma delas, a ação policial foi abusiva e ilegal. Em todas elas, os governantes de cada sigla partidária assistiram a tudo em criminoso silêncio.

Entre os participantes das manifestações iniciadas em junho, há quem peça o fim dos partidos. Defendem apenas uma grande e poderosa organização política, unida em torno dos interesses da “pátria”. É o velho sonho fascista que já causou tantos pesadelos.

Não à toa, o fascismo brasileiro recebeu o nome de integralismo. Todos deveriam se integrar a um único corpo, sem separações e discordâncias. Toda contestação seria considerada traição a ser punida sumariamente.  

O partido dos integralistas durou apenas seis anos. Nosso conservadorismo autoritário e violento não precisava dele. Desde os porões da ditadura do Estado Novo às masmorras criadas pelo golpe de 1964, o aparato repressivo militar só vem se fortalecendo.

Em uma “pátria” administrada pelos vassalos políticos do poder econômico, a turma dos quartéis faz o que quer. E não apenas em manifestações. De 2001 a 2011, mais de 10 mil pessoas morreram em confrontos com a polícia. A grande maioria formada por pobres, como o pedreiro Amarildo de Souza. Mas há casos como o da engenheira Patrícia Amieiro.

Já temos um grande e poderoso partido. Ele marcha anualmente. Mata todos os dias.

6 de setembro de 2013

Somos todos mascarados... e pedófilos?

Em 04/08, foram presos cinco integrantes do Black Bloc carioca. Trata-se de um grupo que ficou conhecido por quebrar fachadas de multinacionais e bancos e defender o direito à autodefesa popular diante dos ataques policiais.

Em de seus manifestos, o grupo afirma que sua “luta é contra as grandes corporações, instituições e organizações opressoras e em defesa de suas vítimas - de forma ativa”. O mesmo manifesto afirma reconhecer “o pequeno empresário como vítima do sistema” e repudia “atos que visam prejudicá-lo”.

Claro que é muito duvidoso que a linha de atuação escolhida pelos Black seja a melhor. O uso de máscaras se justifica diante da ofensiva covarde das forças de repressão. Mas facilita a ação de provocadores ou simples baderneiros em nome do movimento.

Além disso, em uma sociedade que coloca a riqueza patrimonial acima de tudo, seja qual for o objetivo de suas ações, serão sempre consideradas criminosas. E é isso o que está acontecendo neste momento.

Um projeto está em discussão na Assembleia Legislativa fluminense proibindo o uso de máscaras nas manifestações. E um dos BBs detidos foi acusado de pedofilia. Uma acusação que é, no mínimo, estranha.

Não há crime mais repulsivo que o abuso sexual de crianças. É tudo o que os perseguidores dos BBs precisam para justificar sua condenação sumária. Para desprezar totalmente as motivações políticas das ações do grupo.

Tudo indica que esse processo de criminalização apenas se inicia pelo Black Bloc. Se não houver resistência hoje, muitos de nós podem ser acusados de pedofilia, amanhã. Todos de máscara no 7 de setembro!

Leia também: Gramsci e a orquestra desafinada das ruas

5 de setembro de 2013

O “Criança Esperança” e a pedagogia do opressor

A 28ª edição do Criança Esperança, promovida pela TV Globo, aconteceu no Rio de Janeiro, em 31/08. Trata-se do maior evento de filantropia do País. Mobilizou quase 800 mil doadores e arrecadou, pelo menos, R$10 milhões para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Há muito tempo correm boatos de que a Globo lucra com a campanha. Mas o maior problema não é este. Se há crianças que são vítimas da injustiça social, monopólios como a Globo são os principais responsáveis. A seus proprietários deveria ser dirigida a pergunta que fez São Gregório de Nissa em seu “Sermão contra os Usuários”: “De que vale consolar um pobre, se tu fazes outros cem?”

O sermão é citado no livro “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire. Nesta obra tão importante, o autor diz que um dos mecanismos de dominação é aquele em que o oprimido incorpora a lógica do opressor. É isso que leva centenas de milhares de explorados a ajudar outros de seus pares, enquanto seus exploradores assistem de camarote.

Não se trata de condenar a caridade. Mas de defini-la como fez Freire na mesma obra. Referindo-se às mãos estendidas dos pobres, ele diz:

...a grande generosidade está em lutar, cada vez mais, para que estas mãos, sejam de homens ou de povos, se estendam menos, em gestos de súplica. Súplica de humildes a poderosos. E se vão fazendo, cada vez mais, mãos humanas, que trabalhem e transformem o mundo.

A transformação do mundo pelos oprimidos é condição para derrotar a pedagogia do opressor.

4 de setembro de 2013

Para entender a guerra na Síria, leia Fisk

Robert Fisk é o mais respeitado correspondente estrangeiro britânico. Há 30 anos, cobre conflitos no Líbano, Afeganistão, Irã, Iraque, Líbano, Argélia e Balcãs. É um defensor da causa palestina e do diálogo entre os países árabes.

Com conhecimento de causa, denuncia incansavelmente as ações imperialistas nesses conflitos. Em 29/08 publicou um artigo cujo título diz: “Obama sabe que se aliou à Al Qaeda?”. No texto, ele mostra como a entrada dos Estados Unidos na guerra da Síria significaria lutar ao lado da organização que os americanos consideram sua maior inimiga:

Os homens que destruíram milhares, em 11/9, estarão lutando ombro a ombro com a mesma nação cujos inocentes eles mataram há quase exatamente 12 anos. Que grande feito para o currículo de Obama, Cameron, Hollande e o resto desses senhores de araque da guerra!

Em texto de 03/09, Fisk afirma “O verdadeiro alvo do Ocidente é o Irã, e não a Síria”. O jornalista é certeiro:

O Irã está profundamente envolvido na proteção ao governo sírio. Além disso, uma vitória de Bashar representa uma vitória do Irã. E vitórias do Irã não podem ser toleradas pelo Ocidente.

Fisk faz uma pergunta importante: “Mas espere um pouco. O Iraque – quando era aliado ‘nosso’ contra o Irã – também usou armas químicas contra o exército iraniano? Usou”. Mas, diz ele, “nós não demos a mínima bola para isso”.

O resumo disso tudo é o seguinte. Primeiro, as ações militares dos imperialistas no mundo nada têm a ver com humanitarismo. São motivadas por razões puramente econômicas e políticas. Segundo, não deixe de ler Robert Fisk.

3 de setembro de 2013

Até Frankenstein pode aprender a ler

Uma das preocupações do sociólogo Ricardo Antunes são as dificuldades do atual movimento sindical para se mobilizar. Entre os maiores obstáculos estaria a elevada automação do processo produtivo. Fenômeno que ele costuma caracterizar com a seguinte frase: “As plantas fabris agora são da ‘engenharia liofilizada’, que elimina substâncias vivas”.

A ideia corresponde ao conceito de trabalho morto, criado por Marx. No primeiro volume de “O Capital”, o revolucionário alemão dá este nome ao trabalho “cristalizado e acumulado nos meios de produção”. Usando um exemplo bem atual, em cada caixa eletrônico instalado jaz o trabalho de vários bancários.

Outra imagem que aparece na obra de Marx quanto a esse processo é a seguinte: “O capital é trabalho morto, que apenas se reanima, à maneira dos vampiros, chupando trabalho vivo e que vive tanto mais quanto mais trabalho vivo chupa”.

Muitos autores marxistas gostam de usar esta metáfora. É o caso de Chris Harman com seu “Zombie Capitalism”, de 2009. Mas um deles levou-a tão a sério que escreveu um livro relacionando as várias criaturas fantásticas da modernidade à vocação macabra do capitalismo.

Em “Monsters of the Market” (2011), David McNally trata personagens como Frankenstein e os zumbis como analogias ao desmembramento do corpo humano exigido pela sociedade dominada pelo mercado. Os proprietários da força de trabalho são obrigados a vendê-la para sobreviver. Passam por uma espécie de mutilação ou de divórcio entre carne e espírito.

As consequências reais dessa situação são mais assustadoras que sua simbologia fictícia. Mas até Frankenstein tinha salvação. Na obra de Mary Shelley, a infeliz criatura se humaniza ao aprender a ler.

1 de setembro de 2013

Gramsci e a orquestra desafinada das ruas

As manifestações populares continuam. Agora, reforçadas por greves como a dos educadores municipais cariocas, com suas belas assembleias ao ar livre. Mas os protestos permanecem isolados e descoordenados. Por isso, há quem fale em “cacafonia das ruas”.

A imagem não é necessariamente negativa. E o fenômeno nem é tão recente. Um texto que Gramsci escreveu nos anos 30 também a utiliza. Em um trecho que destaca a importância de passar do “consenso passivo e indireto” ao “consenso ativo e direto”, ele afirma:

... a participação dos indivíduos dá origem a uma aparência de desagregação e de desordem. Uma consciência coletiva é, com efeito, um organismo vivo, ela só se forma depois da multiplicidade se ter unificado através da atividade dos indivíduos... Numa orquestra que está a ensaiar, cada instrumento a tocar sozinho dá a impressão da mais horrível cacofonia; e, no entanto, estes ensaios são a condição da existência da orquestra como um instrumento único. (Note sul Machiavelli, sulla politica e sullo Stato moderno).

Nas manifestações que tomaram as ruas espanholas em 2011, essa imagem ganhou realidade literal. Em maio daquele ano surgiu o Coro e Orquestra Solfônica, formados por músicos profissionais e amadores. Na greve geral europeia de 14 de novembro do ano seguinte, a Solfônica tocou em meio à violenta repressão policial nas ruas de Madri.

A orquestra a que Gramsci se referia era naturalmente o partido revolucionário. Mas este coletivo plural que deve tocar como um instrumento único ainda está por ser construído aqui e em muitos outros lugares. Mas não tem jeito. Sem ensaios, é difícil que a música preste.

Clique aqui e veja a Solfônica em ação.

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