Doses maiores

31 de julho de 2013

Médicos: nem vilões, nem heróis. Trabalhadores

Recentemente um dos setores mais conservadores da sociedade viu sua condição de profissão liberal ser extinta pelos operadores dos planos de saúde que exploram a mais-valia obtida através da prestação dos serviços. Assim, aqueles que foram selecionados através de provas excludentes nas escolas de medicina e que sonham algum dia virar burgueses estão hoje na rua para lutar por reivindicações trabalhistas. Sim, os médicos agora fazem parte da classe trabalhadora, mesmo que não tenham consciência dessa nova relação com os meios sociais da produção.

O trecho acima é de um artigo de Ricardo Palácios, médico colombiano com diploma revalidado no Brasil. Foi publicado na revista Carta Capital em 07/07, logo depois de o governo brasileiro anunciar a intenção de “importar médicos estrangeiros”.

O texto faz uma série de considerações com que se pode concordar ou não. Menciona a situação precária dos profissionais credenciados pela rede particular, mas não cita a precariedade dos que trabalham no SUS. De qualquer modo, vale pelo alerta para a “proletarização” da douta profissão.

Médicos também têm direito de errar. O mesmo vale para sindicalistas. Mas os sindicalistas médicos abusam desse direito ao concentrar seus protestos contra a “importação” de colegas estrangeiros. De fato, se pensarmos na calamitosa situação do sistema de saúde brasileiro, a medida é superficial, demagógica e beira a irresponsabilidade.

Mas a mobilização da categoria precisa avançar muito além disso. Os médicos conscientes têm que assumir sua condição de trabalhadores. Deixar de agir como corporação e unirem-se às lutas dos outros explorados. “Ei, você aí de jaleco, também é explorado!” Não rima, mas é verdade.

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