Doses maiores

17 de maio de 2013

O Globo e o progresso racista da sociedade brasileira

Em 12/05, o Globo publicou matéria sobre a trajetória da família Machado, iniciada pelo escravo Vicente, no século 19. Entre seus atuais descendentes, estão Robson, doutor em História pela Unicamp, e seu filho, Daniel, estudante de Geografia na UERJ.

Um percurso feliz, sem dúvida. Mas a matéria recebeu o seguinte título: “Família avança no ritmo do progresso do Brasil”. O título refere-se apenas àquele grupo familiar, mas pode sugerir que o mesmo acontece com os negros em geral.

Primeiro, uma das sociedades mais desiguais do mundo não tem motivos para comemorar um suposto progresso. Segundo, isto é ainda mais verdade para a grande maioria negra de nossa população. Veja-se o caso do nível de escolaridade, destacado pelo Globo.

Em setembro de 2006, o IBGE fez um estudo baseado na Pesquisa Mensal de Emprego nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Os dados mostravam que negros com a mesma escolaridade de brancos recebiam salários menores.

Em 2004, foi divulgado o estudo “Características da População em Idade Ativa Segundo a Cor ou Raça nas Seis Regiões Metropolitanas”. A pesquisa indicava que negros empregados possuíam 7,7 anos de estudos, enquanto os desempregados, 8 anos.

Ou seja, para os negros, mais anos de estudo pode significar menos chances de emprego. Afinal, os postos de trabalho mais qualificados estão reservados aos brancos. Apesar disso, somos obrigados a ler e ouvir afirmações como “Maioria dos negros já é de classe média”, presente na mesma edição do Globo.

A quem interessa um recorte dourado como este da questão racial no Brasil? Certamente, à nossa ideologia racista, mais conhecida como democracia racial.

Leia também: O lugar que o racismo brasileiro destina aos negros

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