Doses maiores

14 de janeiro de 2013

O enorme Ícaro que voa sobre nós

Em meio à confusão sobre a rolagem da dívida americana, surgiu a delirante ideia da moeda de 1 trilhão de dólares. Ela ficaria depositada no banco central americano, servindo como garantia para os gastos do governo do país.

Ninguém levou essa ideia muito a sério. Ela serviria apenas para mostrar a que ponto surreal chegou a economia dos Estados Unidos. Mas algo muito mais absurdo e delirante já vem acontecendo há muito tempo. E está na raiz da atual crise capitalista.

A partir de 1944, o comércio capitalista mundial adotou como moeda-padrão o dólar lastreado em ouro. Ou seja, para cada dólar haveria uma quantidade de ouro nos cofres americanos. Na prática, qualquer um que tivesse moeda americana poderia trocá-la pelo valioso metal junto ao governo estadunidense.

Isso já representava um poderio enorme nas mãos do império estadunidense. Mas, em 1971, o governo americano decidiu acabar com a equivalência dourada. Desde então, o dólar é garantido pela palavra do tesouro ianque. Ou melhor, por sua enorme e poderosa economia.

Mas o delirante da situação não está aí. A grande loucura foi a definição de que as moedas já não teriam qualquer equivalência real. Tornaram-se literalmente papel pintado ou metal gravado. Foi neste momento, que o capital finalmente ganhou asas. Virou “capital volátil”. Aquele que voa para qualquer lugar, a qualquer momento.

Como Ícaro, voa cada vez mais alto. Tão alto que o sol pode derreter a cera que prende as penas de suas asas. E o que parece a sombra de uma nuvem passageira, pode ser seu imenso corpo desabando sobre nós.

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