Doses maiores

31 de outubro de 2012

Quem lucra com o caos urbano

Finadas as eleições, prefeitos eleitos ou reeleitos administrarão grandes cidades cada vez mais inviáveis. Dificilmente será diferente em um país que incentiva a compra de automóveis. Ou adota um programa habitacional que constrói mais bairros dormitórios. Modelo que provoca enormes migrações de um lado a outro das metrópoles duas vezes ao dia.

A combinação entre “Minha casa, minha vida” e IPI menor para carros mantém a situação descrita pela reportagem “As cidades na ponta do lápis”, publicada no Valor em 26/10. Entre outras coisas, o texto de Diego Viana diz que a mobilidade urbana deficiente nas cidades brasileiras consome até R$ 40 bilhões anuais. Já a poluição atmosférica custa até R$ 17 bilhões em doenças respiratórias, só em São Paulo.

A matéria só não explica que tais prejuízos atingem principalmente os trabalhadores e a infraestrutura pública. E que esta é custeada basicamente pelos impostos cobrados daqueles.

Afinal, não há notícia de diminuição do faturamento dos empresários por causa do caos urbano. Suas fábricas poluem. Os carros que fabricam entopem as ruas. A especulação de que se beneficiam faz disparar o preço dos imóveis. Eles concentram enormes lucros e dividem os prejuízos ambientais com a grande maioria da população.

Nem com o trânsito, os grandes empresários sofrem. Têm à disposição a maior frota de helicópteros do mundo. A miséria, o estresse e o sofrimento ficam no chão. No ar, a elite voa como abutres gordos. Apenas observam a confusão no formigueiro lá embaixo. Devem acreditar que o que vem debaixo não pode atingi-los. Melhor não confiar nisso. Nossas metrópoles estão se tornando barris de pólvora.

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30 de outubro de 2012

Best-sellers do preconceito

Ontem, 29/10, foi o Dia Nacional do Livro. Nesta data, em 1810, a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para o Brasil, dando origem à Biblioteca Nacional. Medida que não impediu que o acesso aos livros continuasse restrito a uns poucos até hoje.

Mas não basta que lutemos pela popularização da leitura. É o que mostra resenha de Rosana Lobo publicada no Globo, em 20/10. O excelente texto fala da nova obra da crítica Regina Dalcastagnè. Trata-se de “Literatura brasileira contemporânea: um território contestado”.

Rosana cita dados que a autora coletou sobre a produção literária nacional. Entre eles, “quase três quartos dos romances publicados (72,7%) foram escritos por homens; 93,9% dos autores são brancos; o local da narrativa é mesmo a metrópole em 82,6% dos casos”.

O resultado desse quadro é desanimador: “O homem branco é, na maioria das ocorrências, representado como artista ou jornalista, e os negros como bandidos ou contraventores; já as mulheres, como donas de casa ou prostitutas”.

A resenhista conclui de maneira perfeita: “Os números da pesquisa reforçam a ideia de que a literatura não é neutra e tampouco está acima de outros meios de representação como a política, o jornalismo ou a televisão. O campo literário também é excludente, também silencia. Ao contrário de Regina”.

Ou seja, não adianta apenas garantir amplo acesso aos livros. Também é preciso que arranquemos sua produção das garras preconceituosas do mercado editorial. Na verdade, é a mesma luta pela democratização da informação e da cultura. Os inimigos são os mesmos monopólios a reproduzir preconceitos e distorções.

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29 de outubro de 2012

Nós, os suicidas desavisados

Ainda sobre a onda de suicídios entre os Guarani-Kaiowa, Fabiane Borges e Verenilde Santos publicaram bela reportagem no site Outras Palavras, em 24/10. O texto traz algumas informações importantes. Entre elas:

Se até cerca de 40 anos atrás, os kaiowa e nhandeva moravam em casas grandes denominadas ogajekutu-ogaguasu, reunindo até cem pessoas de uma mesma família, hoje vivem em casas minúsculas, muitas ainda feitas de barro, sem a proteção da floresta, abrigando apenas a família nuclear. A estrutura da família extensa, cuja chefia baseia-se no prestígio e religiosidade, desorganizou-se, visto que os indígenas não conseguiram substituir seu prestígio cultural pelo poder dos brancos. Com a dizimação de suas terras, sem os ritos do plantio, da colheita, das sagas coletivas de caça e pesca, eles não têm razões para continuar com seus ritos, e conforme perdem as práticas com a terra perdem também sua cultura. Mesmo que ainda subsista, de forma curiosa, a língua guarani, que é o maior foco de insistência e resistência dessa coletividade.

Esta violência cultural seria um dos motivos principais para a epidemia de suicídios entre os guaranis-kaiowá. Trata-se da “perda da terra, da tekoha, o lugar onde ‘realizam seu modo de ser’”, diz o texto.

Mas por que alguém sacrificaria a própria vida por ter perdido seu “modo de ser”? Há muito tempo, nós, os “civilizados”, aprendemos a desprezar tais preocupações. Nos tornamos mais práticos e passamos a valorizar somente “formas de ter”.

Ou seja, é como e já tivéssemos nos suicidado e não nos demos conta.

Leia também: Desde seu berço, o capitalismo olha para a morte

26 de outubro de 2012

Economia: aderindo a modas perigosas

No artigo “Feio, mas ainda na moda”, Vinícius Torres Freire diz que o investimento estrangeiro direto no País alcançou US$ 47,6 bilhões em setembro. Pode chegar a ser “o segundo maior da história". Ou seja, conclui o jornalista, apesar da feiúra de seus números econômicos, o País continua na moda.

Mas o texto publicado na Folha, em 25/10, também avisa: "empresas estrangeiras compram as brasileiras em baciadas”. E cita dezenas de aquisições feitas nos últimos seis meses. É o caso da compra da Amil pela americana UnitedHealth, do Rapidão Cometa pela FedEx e da Ypióca pela britânica Diageo.

Enquanto isso, em 23/10, a revista “The Economist” publicou reportagem sobre a desaceleração da economia dos chamados BRICS: Brasil, Rússia, China e Índia. O título da matéria, “Broken Brics” (Brics Quebrados), é exagerado, mas cita dados nada bons.

Nos últimos anos, afirma a matéria, o crescimento econômico dos chamados “emergentes” vem despencando: os 10% da China caíram para 7%, os 7% da Rússia se tornaram 3,5% e os 5% do Brasil não chegam a 2%, hoje.

É uma avaliação contraditória em relação ao que indica o artigo de Freire. Mas aponta algo perigoso. Nosso parque industrial vai ficando ainda mais internacionalizado. Os rumos de grande parte da produção do País são decididos cada vez mais fora de suas fronteiras.

O dinheiro chega porque a situação lá fora está pior. E, aqui, os salários baixos garantem lucros altos. Mas a crise já começa a atingir nossa economia. Os investimentos podem fugir com relativa facilidade. Aí, podemos aderir à última das modas pelo mundo: a quebradeira generalizada.

Leia também: Lulismo e capitalismo continuam dando certo. Infelizmente

25 de outubro de 2012

O lixo de que se alimenta o fascismo

No final de setembro, os jornais mostraram pessoas procurando comida em latas de lixo na Espanha. Muitas delas, trabalhadores assalariados. É a crise econômica castigando um país que já foi símbolo de abundância e dignidade. Resultado trágico da imposição do modelo neoliberal.

No entanto, há quem diga que foi a social-democracia que fracassou. Trata-se de John Weeks, respeitado economista da Universidade de Londres. Seu depoimento foi publicado pelo jornal argentino Página/12, em 23/10.

Weeks diz que os principais problemas dos países europeus em crise “têm a ver com os condicionamentos que aceitaram para entrar no euro. Neste contexto, diz ele, a União Europeia converteu-se no instrumento da Alemanha para governar a Europa”.

Ora, governo alemão quer dizer ditadura econômica neoliberal. O erro dos governos social-democratas foi se render a essa ditadura. E quando estourou a crise em 2008, também foram eles que se encarregaram de cometer o que Weeks chamou de crime: salvar os bancos. No caso da Espanha, o atual governo é de direita, mas continua a política que herdou dos social-democratas.

Desde o início da crise, o correto seria enfrentar o grande capital. Solução radical que a moderação social-democrata é incapaz de adotar. O problema é que as consequências estão longe de ser moderadas.

A Grécia é outro caso de social-democratas no comando. O país registrou 87 ataques racistas de janeiro a setembro. Pessoas revirando lixo para comer podem formar um exército de revoltados. Muitos delas podem tornar-se 
soldados do racismo e da xenofobia que vão se espalhando por toda a Europa.

O fascismo costuma se empanturrar desse tipo de lixo.

24 de outubro de 2012

Desde seu berço, o capitalismo olha para a morte

Em 23/10, Bob Fernandes publicou em seu blog a matéria “863 índios se suicidaram desde 86”. O texto fala dos Kaiowá-Guarani. A Justiça Federal decretou a expulsão de 170 deles de suas terras, no Mato Grosso do Sul.

Diante disso, os indígenas lançaram uma carta-testamento. Nela, pedem às autoridades “para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui”.

Os Guarani-Kaiowa não estão sozinhos. Na Europa em crise ou na China em expansão, aumentam os casos de suicídio. A morte voluntária atrai os que estão no centro do capitalismo e os que são por ele marginalizados.

Em 1846, Marx escreveu o livro "Sobre o suicídio", em que afirma:

A sociedade moderna é um deserto habitado por bestas selvagens. Cada indivíduo está isolado dos demais, é um entre milhões, numa espécie de solidão em massa. As pessoas agem entre si como estranhas, numa relação de hostilidade mútua: nessa sociedade de luta e competição impiedosas, de guerra de todos contra todos, somente resta ao indivíduo ser vítima ou carrasco. Eis, portanto, o contexto social que explica o desespero e o suicídio.

Em ensaio sobre a música de Mahler, o filósofo Jorge de Almeida menciona a Viena do final do século 19. Considerada “o berço do mundo moderno”, a cidade reuniria inúmeros artistas, cientistas e escritores que “teriam rompido com a tradição e revolucionado a cultura europeia”. Metade dessas cabeças brilhantes cometeu suicídio entre 1895 e 1914. Pareciam negar a possibilidade de convivência entre sua sensibilidade e a sociedade que nascia.

Ainda em seu berço, o capitalismo olhava para a morte.

Leia o ensaio de Almeida, clicando aqui

23 de outubro de 2012

Professores proletarizados, educação taylorizada

“Desempenho de professores da rede estadual do Rio será monitorado”, diz reportagem de Cristina Tardáguila publicada no Globo, em 18/10. Segundo o texto, cerca de cem escolas da rede estadual participarão de “projeto-piloto que visa medir a eficiência dos professores em sala de aula”.

A economista-chefe do Banco Mundial para Educação na América Latina e Caribe, Barbara Bruns é citada pela reportagem. Teria dito que “a indústria da educação é a única em que os ‘operários’ (professores) não tem sua performance avaliada de forma direta e objetiva em busca de uma otimização do tempo”.

A coordenadora geral do Sindicato da categoria, Gesa Correa, declarou que tais avaliações procuram culpar os professores pela baixa qualidade do ensino público. Só “servem para colocar um ranking, dividir profissionais de educação entre competentes e incompetentes”, disse ela.

Recente artigo na revista marxista “Monthly Review” aborda este problema nos Estados Unidos. Nele, John Bellamy Foster denuncia a adoção de métodos tayloristas em escolas públicas estadunidenses. Trata-se do programa “Corrida para o topo”, resultado de parceria entre o governo Obama e entidades “capitalistas”, como a Fundação Bill e Melinda Gates. O programa engessa procedimentos, tira a iniciativa dos educadores, impõe a adoção de apostilas técnicas e livros resumidos.

Marx afirmou que a sociedade capitalista se dividiria cada vez mais em burgueses e proletários. Mas não quis dizer que todos os trabalhadores usariam macacão. Em pleno século 21, professores tornam-se apertadores de parafuso.

Os operários sempre aprenderam com suas lutas nas fábricas. Seria bom que educadores e alunos descubram essa outra pedagogia.

Leia o artigo de Foster, clicando aqui

21 de outubro de 2012

A Grécia como laboratório da extrema-direita

A Grécia continua sendo um país a ser olhado com atenção na atual crise econômica mundial. Principalmente, pela capacidade de resistência de seu povo.

Nos últimos dois anos, já foram 20 greves gerais. Não apenas contra a miséria e o desemprego. Também é uma forma de impedir as saídas conservadoras. Infelizmente, a maior parte da esquerda grega continua priorizando a saída institucional.

O atual governo é socialista e tenta manter o país na zona do Euro, mesmo que isso signifique ainda mais sacrifícios para os trabalhadores. O pior é que os socialistas vêm cedendo ao discurso conservador de forma nojenta.

É o caso do ministro Michalis Chrisochoidis, que defende a construção de um muro na fronteira com a Turquia para impedir a entrada ilegal de imigrantes. Enquanto isso, o partido neonazista “Amanhecer Dourado” joga na ofensiva. Sua deputada Elena Zaroulia, por exemplo, vem chamando os imigrantes de “sub-humanos” e “portadores de doenças”.

O próprio aparato estatal faz o jogo do inimigo. É o que declarou o historiador Tassos Kostopoulos, na reportagem “Grupo de extrema direita ganha espaço com problemas da Grécia”, publicada pelo New York Times, em 24/04. Segundo ele, “historicamente, o Amanhecer Dourado tem relações com o Estado grego, em especial com a polícia”.

É por isso que Nicos Demertzis, cientista político da Universidade de Atenas, declarou na mesma reportagem: "Neste momento, a sociedade grega é um laboratório da evolução da extrema-direita".

Uma vitória do fascismo na Grécia seria um péssimo sinal. Consequência trágica de um erro já cometido antes na história: a confiança cega na democracia dos gabinetes e palácios.

19 de outubro de 2012

Tá vendo aquele estádio, moço? Ajudei a construir...

“Na reta final das obras, Maracanã terá reforço de 1,2 mil operários”, informou o Portal 2014, em 05/10. Com isso, chega a 6.400 o número de trabalhadores na reforma do estádio. As obras estão sendo feitas pela Odebrecht.

Segundo o site Brasil Atual, a empreiteira teve o maior faturamento de sua história no ano passado. Mas nem por isso paga o melhor salário a seus operários, diz a notícia. Em novembro de 2011, a média salarial de um pedreiro era de R$ 1.400 no ramo. A empreiteira pagava apenas R$ 917.

Tem lógica. Em geral, maior faturamento vem exatamente do pagamento de baixos salários. Por isso, há pouco mais de um ano, os operários do Maracanã entraram em greve. Depois de cinco dias, a corajosa paralisação arrancou um modesto aumento de 9,2% na cesta básica.

O preço dos ingressos para a Copa ainda não foi definido. A Fifa diz que será possível assistir aos jogos por R$ 50,00. Mesmo que seja verdade, deve ser para poucos. E os estádios que estão sendo construídos apontam para um acesso elitizado. A famosa “geral” do Maracanã já tinha acabado muito antes das atuais obras.

Parece que vai ser como em “Cidadão”, a bela música de Zé Geraldo. No lugar do “edifício”, o estádio. Ficaria assim:

Tá vendo aquele estádio, moço?
Ajudei a construir
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
Olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
E me diz admirado, tu não é nem abonado
Não vai poder entrar...

O Corinthians e o futebol têm pouco a comemorar

18 de outubro de 2012

Nobel: da dinamite à mercantilização da vida

“Nobel de Economia para americanos especialistas nos mercados”, dizem os jornais. O famoso prêmio foi criado por Alfred Nobel, que enriqueceu depois de inventar a dinamite. Para compensar o uso destruidor de sua invenção, Nobel destinou parte de sua herança milionária à premiação de personalidades e entidades que contribuíssem para o progresso humano. Mas há muitos escolhidos que estão longe de merecer tal reconhecimento.

Os casos mais recentes foram Barack Obama e a União Europeia, premiados por seus esforços “em prol da paz mundial”. O presidente dos Estados Unidos pode até ser simpático, mas lidera o império mais violento da história humana. Algo que jamais contrariou. Já a União Europeia criou desemprego em massa, pobreza para milhões e seus principais governantes estimulam ódio aos imigrantes e racismo.

Os americanos a que se referem os jornais são Alvin Roth e Lloyd Shapley. Eles receberam o Nobel de Economia por seus trabalhos sobre a melhor maneira de combinar a oferta e a procura. E entre as aplicações de suas descobertas estariam aquelas relacionadas aos mercados de doação de órgãos e de educação. Ou seja, desenvolveram instrumentos econômicos para aperfeiçoar uma praga moderna: a transformação de todas as dimensões da vida em mercadoria.

Parece que da dinamite à mercantilização social, os administradores da herança de Nobel têm uma ideia muito estranha do que seja progresso para a humanidade.

Leia também: No século 22, os interesses materiais imperam

17 de outubro de 2012

Um perigoso desânimo eleitoral

O sociólogo José de Souza Martins publicou o artigo “Voto-desalento” no Estadão, em 14/10. O texto trata de votos nulos, brancos e das abstenções nas últimas eleições municipais.

O que Martins chamou de “eleitores desalentados” chegaram a quase 2 milhões e meio nas eleições paulistanas, por exemplo. Enquanto isso Serra teve pouco mais de 1.8 milhão de votos e Haddad, 1.7 milhão.

No Rio, esses eleitores chegaram a 1.4 milhão, bem acima de Marcelo Freixo, do PSOL. O segundo mais votado em Belo Horizonte foi Patrus Ananias, do PT. Perdeu para os desalentados cerca de 40 mil votos.

O mesmo aconteceu em Recife, Salvador e Fortaleza. Nestas duas últimas capitais, o primeiro colocado perdeu para os votos inválidos ou inexistentes. Em Porto Alegre, Manuela d'Avila (PcdoB) perdeu para Fortunatti (PDT), mas teve os votos equivalentes à metade dos eleitores desalentados.

Segundo Martins, o fenômeno sugere "uma crise da representação política e mesmo o declínio dos partidos". Para ele faltaria “um sistema partidário que dê efetivamente conta do que a representação política deveria ser".

O fenômeno realmente é grave. Mas baixo índice de participação eleitoral não é necessariamente um mal. A não ser que signifique baixa participação política. E tudo indica que é isso o que está acontecendo.

A população já não consegue enxergar diferenças ideológicas entre a maioria dos partidos. A política também vem sendo criminalizada. O PT tem grande responsabilidade nisso tudo. Primeiro, pelas alianças que faz. Segundo, pela adesão a métodos criminosos.

Nada a comemorar. Desânimo eleitoral despolitizado é tudo o que direita quer. É preciso politizar as lutas e combater as ilusões eleitorais.

Leia também: O PT se acomoda ao conservadorismo

16 de outubro de 2012

Muitos sem terra, poucos sem iate

“Os ‘sem-lancha’ da cidade classe A” diz título de reportagem de Henrique Gomes Batista para o Globo de 15/10. Trata-se de Florianópolis, cuja proporção de ricos é a maior entre as capitais. São 28% da população na chamada “classe A”. Com a carência de marinas na cidade, essa faixa populacional tem sido obrigada a restringir a compra de embarcações.

Também em 15/10, a IHU On-Line publicou entrevista do historiador Paulo Pinheiro Machado sobre a Guerra do Contestado. O conflito ocorreu entre 1912 e 1916 na divisa entre Santa Catarina e Paraná. Uma perseguição policial levou um grupo de sertanejos catarinense a fugir para o Paraná. Foram recebidos à bala pelas autoridades locais.

Enquanto os camponeses eram reprimidos pela polícia, a Brazil Railway Company construía uma ferrovia na região. A empresa inglesa trouxe mão de obra europeia para as obras, expulsando os nativos. Foram jogados uns contra os outros para viabilizar a nascente exploração capitalista da região.

Cem anos depois, a vida continua difícil para os dois grupos. Segundo Machado, “os participantes dos assentamentos e acampamentos da reforma agrária” podem ser considerados “remanescentes do movimento do Contestado”. E os colonos de origem europeia “perderam suas terras nas últimas décadas para bancos, comércio e agroindústria”.

Os dois extremos catarinenses são vergonhosos. De um lado, muita gente sem terras para produzir. De outro, alguns ricos sem ter onde ancorar seus iates. Mas a situação não é diferente no restante do país. Na mesma edição de O Globo, nota afirma que os milionários brasileiros possuem mais dinheiro que as reservas internacionais de todos os países da União Europeia juntos.

Leia também: Nordeste mais desigual e nada de Reforma Agrária

15 de outubro de 2012

No século 22, os interesses materiais imperam

Caros habitantes do século 21, escrevo diretamente do início do século 22 e tenho péssimas notícias. Aconteceu aquilo que alguns de vocês já temiam. Naquele que é meu presente e seu futuro, toda a vida social gira em torno do valor de troca.

Um jantar em família, um beijo de boa noite, um abraço afetuoso, cada uma dessas manifestações valem pontos que dão direito a créditos para consumo. Casamentos são decididos em leilões, bebês já nascem com suas vidas projetadas em planilhas. As relações sexuais são reguladas por determinações estatísticas.

O mesmo vale para as amizades, que são negociadas como ações nas bolsas de valores. Esferas espirituais, como a religião e a arte, foram quantificadas e compõem derivativos financeiros.

Os defensores desse tipo de relação social alegam que tudo ficou muito mais claro. Esse processo já vinha ocorrendo há alguns séculos, dizem eles. Mas ficava oculto sob camadas de hipocrisia. Agora, ninguém mais esconde que o que realmente importa são os interesses materiais.

O problema é que a mesma doença que atacava as operações financeiras, agora atinge as relações sociais. Conflitos especulativos entram pelas casas adentro. Contaminam o cotidiano, destroem famílias, amizades, lealdades, convicções.

Antes, as crises econômicas jogavam milhões na pobreza, mas laços afetivos e de lealdade serviam como refúgio à crueza quantitativa do capitalismo. Agora, os desequilíbrios econômicos partem do interior mesmo dessas relações. A crise já não atinge a humanidade. Ela é a humanidade. O colapso é inevitável.

A não ser que... Bom, a não ser que vocês mudem a história. Ainda há tempo. Mas não muito...

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11 de outubro de 2012

O PT se acomoda ao conservadorismo

Alberto Dines publicou o artigo “Quem derreteu Russomanno foi a Cúria” em 09/10, no Observatório da Imprensa. O jornalista aponta fatores religiosos na derrota da candidatura do candidato do PRB.

Segundo Dines, pouco antes da eleições, um texto do bispo Marcos Pereira, da Igreja Universal, chefe da campanha de Russomanno, circulou na internete. Um trecho dizia: “Precisamos salvar o Brasil e torná-lo verdadeiramente laico, livre da influência da religião.”

O artigo avalia que a cúpula da Igreja Católica usou o texto para assustar os carolas de sua base, retirando votos de Russomano. Por essa explicação, venceu o conservadorismo católico, não o evangélico. E pode ter beneficiado a candidatura petista.

O conservadorismo também domina a cena eleitoral nas eleições paulistanas. De um lado, o quarto vereador mais votado foi o tenente Telhada. O ex-comandante da Rota tem fama de matador e teria ameaçado de morte um jornalista da Folha. É do PSDB, de Serra.

Do outro lado, os petistas têm o apoio de Paulo Maluf, que foi governador no início dos anos 1980. Época em que ele consolidou a vocação assassina da Rota. Como se vê, a violência contra os pobres está contemplada no segundo turno paulistano.

Por fim, duas informações quanto ao julgamento do “Mensalão” e à imprensa golpista. A primeira: oito dos onze juízes do Supremo foram indicados pelos governos petistas. A segunda: apenas dez empresas da grande mídia concentram 70% da verba publicitária do governo federal. O resto é dividido pelos 3 mil veículos do País.

O PT enfiou-se numa camisa de força conservadora. E vai se acomodando cada vez mais a ela.

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10 de outubro de 2012

Idosos do mundo, uni-vos

“Mundo terá 1 bilhão de idosos em dez anos”, avisa o Fundo de População das Nações Unidas. A instituição também diz que, em 2050, os idosos chegarão a 2 bilhões.

Os neoliberais gritam: “o envelhecimento populacional vai quebrar os sistemas de previdência”. Trata-se de meia verdade. O volume de recursos produzidos pela economia mundial seria suficiente para assegurar o futuro de todos, não fosse apropriado por uma elite que não deve ultrapassar os 2% da humanidade.

Os números da ONU indicam uma vitória da humanidade sobre a decomposição biológica. Mas a degeneração social vem ganhando essa corrida com larga vantagem. A grande maioria dos idosos sofre com preconceitos e apertos econômicos.

A ciência vem avançando na melhoria da qualidade de vida para os mais velhos. O problema é que grande parte desses avanços está reservada aos poucos que podem pagar. Não são apenas os tratamentos caros. Dietas equilibradas e tranquilidade também se tornaram bens de luxo. Para a grande maioria, sobra idade e faltam conforto e dignidade.

Ao mesmo tempo, reportagem de Luís Bassets, publicada no El País, em 07/10, diz: “Um mundo com mais população idosa será conservador e pouco inclinado a revoluções”. A afirmação é mais que duvidosa. Ninguém faz revolução porque é jovem. Revoltas acontecem empurradas por crises sociais.

Por outro lado, revoluções não se resumem a batalhas de rua. Estas são o resultado, não a causa dos conflitos de classe. E para alcançarem a vitória precisam da organização e da experiência de séculos de lutas populares. Um acúmulo que está na cabeça de milhares de militantes veteranos. Portanto, grisalhos, uni-vos!

9 de outubro de 2012

O perigoso sucesso econômico alemão

A Alemanha é uma das grandes potências econômicas mundiais. Fala-se muito em sua competitividade e produtividade. Mas tudo isso tem um preço. E ele é pago pelos explorados. É o que mostra a reportagem “Alemanha enfrenta desigualdades sociais”, de Frédéric Lemaître, publicada no Le Monde em 04/10.

O jornalista diz que “embora a Alemanha esteja bem, o mesmo não vale para todos os alemães”. Segundo o artigo, em setores como os de motoristas de táxi, salões de beleza, limpeza industrial e restaurantes, mais de 75% recebem baixos salários.

Um quarto dos alemães ocupam empregos por prazo determinado. Além disso, 6,8 milhões ganham menos que o salário mínimo. Cerca de seis milhões recebem uma renda mínima do governo. Por outro lado, os 10% mais ricos possuem 53% da riqueza privada do país. Já os 50% mais pobres, dividem 1%.

Ou seja, por trás do sucesso alemão estão números gordos no atacado e muita injustiça social no varejo. Trata-se de uma combinação perigosa num país com forte tradição conservadora.

A situação atual é muito diferente da que levou os nazistas ao poder nos anos 1930. Mesmo assim, as autoridades calculam que há 25 mil partidários da extrema direita na Alemanha. Destes, cerca de 9.500 são neonazistas, fichados por atos de violência. Costumam agir contando com a omissão ou cumplicidade das forças policiais.

Felizmente, a esquerda está reagindo. É o que demonstram as manifestações ocorridas em 29 de setembro. A principal reivindicação é um novo imposto sobre grandes fortunas. Mas é preciso ir além. Construir a resistência popular para enfrentar a onda conservadora que já começa a surgir.

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8 de outubro de 2012

Eleição não cura analfabetismo político

O resultado das eleições não foi dos melhores para a esquerda combativa. O PSOL foi bem em diversas votações para vereadores, mas não conseguiu disputar seriamente muitas das principais prefeituras.

Contaram menos os muitos erros do partido que a pouca receptividade a uma militância que prega o socialismo e combate o pragmatismo político. Faz parte desse quadro político uma relativa satisfação popular com a atual situação do País.

Muitos de nós reagiram citando “O analfabeto político”, de Bertold Brecht. O famoso texto chama de burro os que estufam o peito dizendo que odeiam a política. Culpa essa “ignorância política” pela eleição do “político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

Muito melhor é o comentário feito por Adriana Facina, no Facebook. Ela diz que “nosso povo é sofrido e vota com o pragmatismo daqueles que matam um leão por dia pra sobreviver e dar de comer aos seus”. Alerta para “a campanha nojenta da mídia corporativa e antidemocrática” e “os rios de dinheiros fornecidos” por empresários.

Adriana lembra que Gramsci, nos “cárceres do fascismo”, se recusou a culpar o povo pela derrota comunista. O marxista italiano mostrou que há um “senso comum” favorável aos poderosos que precisa ser combatido pelas forças revolucionárias. E conclui, referindo-se às eleições cariocas: “Esse povo que hoje reelegeu o Pae$ é o povo com que faremos a revolução e não outro".

Não se pode reduzir o aprendizado político aos limites estreitos do processo eleitoral. Exagerar a importância de eleições institucionais serve apenas para esconder nossa incompetência política. Ainda somos todos alunos.

Leia também: Eleição nunca foi sinônimo de democracia

5 de outubro de 2012

Voto: direito universal e limitado

O sufrágio universal costuma simbolizar o sucesso da democracia moderna. Mas seu maior êxito favorece os poderosos. É a ilusão de que possibilita participação política para a grande maioria.

No Brasil, dezenas de milhões votam a cada dois anos e vão cuidar da vida. Enquanto isso, alguns milhares fazem política profissional. A grande maioria deles, a serviço do grande capital. Fábio Konder Comparato concedeu entrevista ao jornal Brasil de Fato, em 02/10. O título é categórico: “Na verdade, o povo não tem poder algum”.

Segundo Comparato, na democracia do sistema capitalista:

...o poder é sempre oculto e dissimulado. Os grandes empresários dizem que não são eles que fazem a lei, mas na verdade são eles que fazem o Congresso Nacional. São eles que dobram os presidentes da República. E os grandes empresários atualmente são os grandes banqueiros, os personagens do agronegócio, os industriais e os grandes comerciantes.

A recente lei da Ficha Limpa mostrou ser mais um elemento a reforçar as ilusões nas eleições. Um de seus idealizadores foi o juiz Márlon Reis. Agora, ele admite que o “eleitor vota às cegas”. Em matéria publicada pela Folha, em 10/09, Reis afirma que as contas dos candidatos só são publicadas muito tempo depois das eleições. Isso impede que os eleitores saibam quem realmente financia aqueles em quem votaram.

O voto universal foi arrancado a ferro e fogo por muitas lutas populares. Deve ser respeitado como conquista importante. Mas sem democracia econômica continuará limitado.

Apesar de tudo, é importante votar nestas eleições. E a opção universal, mesmo com todos os seus limites, são as candidaturas do PSOL.

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4 de outubro de 2012

Economista comprova Marx, depois de criticá-lo

“A crise é permanente, mutante e contagiosa”, diz o título de artigo de Tony Volpon, publicado no Valor, em 21/09. O economista critica a teoria marxista, mas o título poderia resumir o que Marx dizia sobre crises capitalistas.

Um dos trechos diz:

A ascensão econômica chinesa é certamente uma das mais importantes causas do esvaziamento e declínio da indústria dos países desenvolvidos, da decadência da classe média, do crescimento da desigualdade de renda, bem como da falta de sustentabilidade de seus generosos sistemas de previdência social. Cada um desses fenômenos é decorrente do outro, um resultado do rearranjo da economia global, em que o capital se alinha onde há mais ganho, sem limitações geográficas.

Na verdade, os “sistemas de previdência social” surgiram das lutas dos trabalhadores europeus. E o “esvaziamento e declínio da indústria dos países desenvolvidos” foram provocados exatamente para esvaziar o poder dessas lutas. Sem empregos, menos trabalhadores. Menor o poder de pressão dos explorados, menos greves e conquistas.

O problema é que menos produção implica menos consumo. Para manter os mercados aquecidos, o crédito foi facilitado. Muita gente comprando e pouca gente produzindo levou a uma combinação insustentável também conhecida como “bolha de consumo”. Quando uma destas estoura, o consumo desaba.

Foi isso que aconteceu em 2008, deixando a fábrica chinesa sem compradores. Enquanto isso, os chamados “emergentes” tornaram-se dependentes das compras chinesas. Com a diminuição destas, a crise também começa a atingi-los. 

Tudo isso é produto do que os marxistas chamam de “desenvolvimento desigual e combinado”.  Algo que torna a crise “permanente, mutante e contagiosa”.  Isso é capitalismo. E é Marx, também.

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3 de outubro de 2012

Carandiru, PCC e acumulação primitiva de violência

“Livro-caixa de facção registra pagamentos a policiais de SP”, diz matéria de Afonso Benites e Rogério Pagnan para a Folha, publicada em 01/10. A reportagem descreve métodos administrativos e movimentação de 6 milhões de reais mensais pela organização criminosa conhecida como Primeiro Comando da Capital.

Há 20 anos acontecia o massacre do Carandiru. A resposta dos criminosos à matança foi a criação do PCC. É o que diz o membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Guaracy Mingardi. Em entrevista a Elaine Patricia Cruz, publicada pela Agência Brasil, ele é categórico: “O PCC não existiria como tal, não teria o poder que tem se não tivesse havido o Carandiru”.

Mas o comportamento assassino da polícia vem desde os tempos da escravidão. A situação se agravou muito nos anos 1970, quando a ditadura militar entregou o comando do policiamento a generais. O episódio do Carandiru marcou nova etapa. Iniciou uma fase na acumulação primitiva de violência que viria a dar origem à resposta organizada do crime.

O conceito de acumulação primitiva foi criado por Marx para descrever a origem do capitalismo. Um processo violento de destruição de antigas relações sociais de produção. Camponeses perderam suas terras, colônias foram formadas à custa do sangue de povos não europeus, milhões de africanos foram escravizados.

A violência está na certidão de nascimento do capitalismo. Por isso, o sistema produz barbárie descontroladamente. Principalmente, nas grandes cidades, onde o aparelho repressivo estatal torna-se cúmplice dos criminosos que combate. Nem sempre involuntariamente.

A violência também vai estar no atestado de óbito do capitalismo. O maior risco é arrastar todos nós para sua cova.

2 de outubro de 2012

Mesmo com 50 tons, cinza ainda é cinza

O mais recente campeão literário de vendas é "50 Tons de Cinza", da inglesa E. L. James. Apesar do enorme sucesso, o livro tem recebido críticas pelo papel submisso reservado à personagem principal. Dizem que a protagonista é seduzida pelas práticas masoquistas de seu parceiro dominador.

Mas, talvez, o maior problema não seja este. Afinal, trata-se de obra de ficção. Mais grave é concluir que o livro faz sucesso porque atende às necessidades do erotismo feminino. E este se caracterizaria por valorizar a imaginação, em oposição ao entusiasmo masculino pelas imagens. Para eles, o explícito das revistas pornôs. Para elas, o implícito dos livros eróticos.

Pode até fazer sentido, mas não porque sexualidade das mulheres seja naturalmente bem comportada. Na verdade, a iniciativa erótica feminina vem sendo reprimida pelo machismo há milênios. As mulheres devem manter-se à espera do parceiro. Dar-se à escolha, jamais escolher. Já quanto aos homens, espera-se a disposição de predador insaciável, permanente garanhão oportunista e violento.

Simone de Beauvoir disse que ninguém nasce mulher, torna-se. O prazer feminino não está condenado a algumas possibilidades eróticas. O mesmo vale para o desejo masculino. A vida sexual humana não obedece a leis naturais. Seus limites são sociais e culturais. Podem e devem ser tensionados, alterados, rompidos, enriquecidos.

Por mais tons que se descubra no cinza, continua sendo cinza. A sexualidade humana pode abranger todo o espectro cromático dos desejos eróticos. Oferecer todas as cores para mulheres e homens nas gradações mais variadas.

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1 de outubro de 2012

Capitalismo: vamos acabar com esse barulho

Em seu livro “A afinação do mundo”, de 1977, o ecologista acústico Murray Schafer diz que antigamente, os sons eram “ligados aos mecanismos que os produziam. A voz humana somente chegava tão longe quanto fosse possível gritar”.

A Revolução Industrial chegou e ”introduziu uma multidão de novos sons, com consequências drásticas para muitos dos sons naturais e humanos que eles tendiam a obscurecer”. A “Revolução Elétrica” traria mais efeitos sonoros amplificados e multiplicados.

O resultado é a poluição sonora, que causa crescentes problemas de audição. Até as baleias estão ficando surdas devido aos milhares de navios que cruzam os oceanos anualmente. Por outro lado, cada vez mais gente vive com aparelhos ruidosos conectados aos ouvidos.

Yi-Fu Tuan, no livro “Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência”, acha que essa busca por isolamento acústico acontece porque “as pessoas querem esquecer o sistema espaço-tempo ligado aos objetivos, muitos destes percebidos como privados de atrativos ou significados”. E que objetivos seriam estes? Podemos deduzir que é a busca cega por lucros que sacrifica o bem-estar da grande maioria.

Mas nem tudo está perdido. Schafer cita pesquisas de Howard Broomfield que mostrariam a influência das estradas de ferro no nascimento do jazz. As “blue notes” típicas do ritmo negro teriam sido inspiradas no “lamento dos apitos das velhas locomotivas a vapor”, por exemplo. E “o claque-claque das rodas sobre os trilhos” estaria na origem da batida percussiva do jazz e do rock.

Isso mostra que a criatividade humana é capaz de arrancar beleza até desse pandemônio sonoro. Mas será muito melhor quando nos livrarmos de toda a zoeira capitalista.