Doses maiores

1 de junho de 2012

Música clássica, compartilhada em rede, há 300 anos

O padre José Maurício Nunes Garcia regeu o famoso Réquiem, de Mozart, no Rio de Janeiro, em 1819. Mais conhecido atualmente por ser tema do filme “Amadeus”, de Milos Forman. O talentoso padre negro foi responsável pela primeira execução da obra fora da Europa.

Três anos antes disso, Nunes Garcia escreveu um Réquiem para a Rainha Maria I. E nessa obra citou dois temas da obra de Mozart. Eram as partes denominadas “Dies iræ” e “Kyrie”. Quem nos dá essas informações é o musicólogo Paulo Castagna. Ele pergunta:

Será que Nunes Garcia roubou esse tema de Mozart? Bem, isso teria sido impossível, porque esse tema nem é de Mozart, é de Haendel.

Segundo o musicólogo, trata-se do coro “And with His stripes we are healed” do oratório “Messias”, de Haendel. A obra é de 1741 e Mozart fez um arranjo novo para ela em 1789, a pedido do Barão Gottfried van Swieten.

Mas nesse mesmo Réquiem Mozart também usou temas de outros compositores, como Pasquale Anfossi e Michael Haydn. Castagna explica:

A citação de obras, naquela época, era vista como homenagem, e não como plágio, conceito que surgiu somente no século XX. José Maurício homenageou Mozart, Mozart homenageou Haendel e este homenageou seus antecessores como se observa retrocedendo-se na história da música.

O que estes autores queriam fazer, ao citar seus predecessores, era inserir-se em uma rede de compositores que possuíam ideias em comum, para serem auditivamente reconhecido como membros dessa mesma rede. Hoje fazemos algo parecido compartilhando imagens ou informações de amigos e de instituições que admiramos na internet. Nos séculos XVIII e XIX isso era feito citando-se temas ou trechos da música de outros compositores da rede.

As informações são da série de programas “Alma Latina: Música das Américas sob domínio europeu”, de Paulo Castagna. Ela é transmitida pela Rádio Cultura FM de São Paulo. Também disponível na página http://paulocastagna.com/alma-latina.

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