Doses maiores

24 de abril de 2012

Genialidade e desespero

Estão em cartaz bons filmes sobre o jogador Heleno e o cantor Raul Seixas. Em comum, o talento e o tormento. Casos que fazem pensar na genialidade como produto do desespero.

Estariam todos os gênios condenados a isso? Há vários exemplos que confirmam a hipótese. Dostoievsky, Lima Barreto, Van Gogh, Turing, Beethoven são só alguns casos. Francisco Bosco em sua coluna de O Globo de 31/03 cita a definição de Sartre:

A genialidade não é um dom, é a saída que se inventa em casos desesperados.

Mas o que dizer de um Chico Buarque? De família rica, bonito, talentoso e inteligente. Parece que o que o atormentava era o sonho de ser romancista. Só recentemente conseguiu. Enquanto isso, foi perpetrando magníficas preciosidades musicais.

Por outro lado, estamos falando de uma determinada época histórica. Só de uns 200 anos para cá os artistas e gênios foram reconhecidos como indivíduos singulares. Antes, em geral, não passavam de artesãos ou estudiosos talentosos, raramente reconhecidos.

Em nosso tempo, a celebridade chegou para muitos deles. Porém, a um alto preço. Artistas e gênios, em geral, parecem nervos expostos. Cometem maravilhas que não cansamos de admirar. Mas estão vulneráveis às mais terríveis dores. Não apenas as do espírito. Constrangimentos materiais são cruéis também.

Em uma sociedade que uniformiza e massifica tudo, são como flores em jardins ressequidos. Admiradas e permanentemente ameaçadas. Será, então, que em uma sociedade com espaço para a invenção já não teríamos gênios? Certamente, o contraste proporcionado pelas flores vistosas desapareceria. Mas no seu lugar poderia haver um jardim repleto dos mais variados e belos tipos de plantas.

Não seria a sociedade alternativa. Seria a primeira sociedade humana digna desse nome.

Leia também:

Nenhum comentário:

Postar um comentário