Doses maiores

27 de março de 2012

Asterix contra Sarkozy

Estamos no ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos... Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor. E a vida não é nada fácil para as guarnições de legionários romanos nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum, e Petibonum...
A apresentação acima acompanha todos os álbuns de Asterix, personagem de Albert Uderzo e René Goscinny. A série francesa é um dos exemplos do que há de melhor nos quadrinhos mundiais.

O que a introdução não explica é que os “irredutíveis” gauleses devem sua invencibilidade a uma poção mágica. A bebida dá aos aldeões uma enorme força física. Seus efeitos duram o bastante para derrotar o poderoso exército do Império Romano.

Infelizmente, alguns nacionalistas franceses adotaram Asterix como mascote de sua xenofobia. Ele representaria a “autêntica identidade francesa”. Conceito sem sentido defendido, inclusive, pelo presidente francês. Daí a justificar o preconceito contra imigrantes é um passo. Principalmente, contra árabes e africanos.

É verdade que a aldeia gaulesa se defende bravamente contra invasões a seu território. Mas para isso busca alianças com os mais diversos povos: espanhóis, suecos, árabes, africanos, gregos, assírios etc. Todos contra o domínio romano.

Ou seja, o segredo da valentia dos gauleses não estaria em seu patriotismo aldeão. A poção que utilizam é feita de outros ingredientes. Entre eles, a resistência popular contra a opressão dos poderosos. E o bom humor no trato com estrangeiros. Os personagens dão boas risadas diante dos nomes, costumes e sotaques que vão conhecendo em suas aventuras.

Nada disso tem a ver com o nacionalismo de Nicolas Sarkozy. De um lado, intolerância em relação aos imigrantes. De outro, submissão ao imperialismo. Basta lembrar a presença de tropas francesas na criminosa ocupação do Afeganistão. Ou o entusiasmo assassino com que participa da invasão à Líbia.

A França de Asterix não merece Sarkozy.

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