Doses maiores

15 de setembro de 2011

Viva os mortos-vivos chilenos

Ontem, 14/09, 15 mil estudantes chilenos voltaram a ocupar as principais avenidas de Santiago, capital do país. Exigem mudanças no sistema educacional, mais investimentos no setor e ensino superior público gratuito.

Os protestos já duram quatro meses. Incluíram uma greve geral de dois dias no final de agosto. Uma demonstração de que a revolta não se limita aos jovens estudantes. A grande maioria da população está insatisfeita com o presidente Sebástian Piñera, neoliberal recentemente eleito.

Em 11 de setembro, milhares foram às ruas protestar contra o golpe que derrubou Salvador Allende, em 1973. Tudo indica que a atual crise chilena tem nesse episódio sua principal causa. A sangrenta ditadura militar acabou, “pero no mucho”.

A partir de 1990, foram eleitos vários governos da esquerda moderada. Mas o essencial da herança neoliberal foi mantido. Crescimento econômico à base de desigualdade social. Ensino superior caro, inclusive na rede pública. Previdência privatizada e para poucos. Pinochet jamais foi julgado. Mandou matar milhares e morreu em sua cama, de velhice.

A situação lembra um filme argentino chamado "Aparecidos", de Paco Cabezas. É um filme de terror lançado em 2008. Os filhos de um torturador são atacados por assombrações. São os fantasmas das vítimas da ditadura argentina. Querem justiça para que suas almas descansem em paz.

Numa de suas manifestações, os estudantes chilenos se vestiram de mortos-vivos para cantar e dançar “Thriller”, de Michael Jackson. A jovem e bem humorada vanguarda parece disposta a fazer aquilo que os seus pais e avós não puderam fazer. Encarar os espectros da ditadura e afugentar o terror neoliberal. Todo apoio a eles!

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2 comentários:

  1. Caro Sergio,

    Primeiro, obrigado pelas suas pílulas.

    Um pequeno comentário. Teriamos de ver melhor se realmente os pais e avós da juventude chilena que está na rua nada tentaram fazer contra os espectros, e agentes concretos, da ditadura. Seria interessante pesquisar se, como na Argentina, muitos dos jovens militantes tem ligação, por influência, valores e até as vezes por vínculos de amizade e familiares, com os que lutaram contra a ditadura no passado.

    Abraços,

    Javier

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  2. É verdade, Javier. Mas quando o texto diz “fazer aquilo que os seus pais e avós não fizeram” a intenção era dizer “fazer aquilo que os seus pais e avós não conseguiram fazer”. Ficaria mais claro, realmente. Quanto à influência dos mais velhos, é bem possível que tenha peso, mas deve ser potencializada pelas contradições atuais.
    Valeu pelo toque e pelo apoio.
    Abraço!

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