Doses maiores

2 de maio de 2011

Um pastor evangélico e republicano

O fim de semana não foi lá muito republicano. Primeiro, um casamento real visto por quase 2 bilhões de pessoas. Evento fantasioso, com o objetivo muito concreto de melhorar a mais que desgastada imagem da monarquia inglesa. Uma instituição que custa aos cofres públicos do país cerca de R$ 1,2 bilhão anuais. Privilégio ainda mais vergonhoso em uma economia que passa por forte recessão.

Outra notícia a atrair as atenções foi a beatificação de João Paulo 2º. A grande imprensa transmitiu diretamente do Vaticano, o mais poderoso Estado teocrático do planeta e um dos mais reacionários. O papa falecido recentemente já foi ungido por seu sucessor imediato. Ambos, exemplos de muita coisa, menos de caridade cristã.

Diante disso, é um alívio ler a entrevista com o pastor protestante Ricardo Gondim, da Igreja Betesda. Publicada na revista CartaCapital de 27/04, o título da matéria diz tudo: “Deus nos livre de um Brasil evangélico”. A frase traduz a preocupação com a intolerância: “Seria a talebanização do Brasil. Precisamos da diversidade cultural e religiosa”, afirma Gondim.

Depois de se declarar a favor do casamento gay, o pastor cearense diz acreditar que Deus não está no controle. E que é preciso viver como se ele não existisse para assumirmos a responsabilidade de lutarmos, nós mesmos, pelo bem. Outros trechos que merecem destaque:
Um ensino muito comum nas igrejas é a de que Deus abre portos de emprego para os fiéis. Eu ensino minha comunidade a se desvincular dessa linguagem. Nós nos revoltamos quando ouvimos que algum político abriu uma porta para o apadrinhado. Por que seria diferente com Deus?
Para alguns autores, a decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.
A seu jeito, Gondim recupera um pouco do potencial transformador de alguns movimentos religiosos populares. Que os ouvidos dos mortais lhe ouçam.

Leia também: Papas da elite, santos do povo

2 comentários:

  1. Parabéns Sérgio, ótimo texto, e que Deus nos livre de um Brasil evagélico, católico, teocrático...

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