Doses maiores

2 de fevereiro de 2018

O lulismo algemado à institucionalidade

O petista André Singer foi o primeiro porta-voz de Lula na Presidência da República. Cientista político, ele costuma afirmar: “não esperem guinadas radicais do lulismo”. Ele é essencialmente conciliador, afirma.

Tem toda razão. O radicalismo do lulismo resume-se à cara nordestina de Lula, sua origem popular e seu português, idem. Isto e mais a fé que desperta nos mais pobres são o bastante para enojar nossa elite nojenta.

Há 15 anos, em janeiro de 2003, Lula foi ao Fórum Social Mundial. Muitos dos que estavam lá esperavam uma guinada à esquerda por parte do presidente recém empossado.

Ela nunca veio. Como não veio nas crises posteriores. Nem no Mensalão, nem no impeachment de Dilma. Não virá agora, com Lula sentenciado e ameaçado de prisão.

Dificilmente Lula será preso tão cedo. Seria criar uma espécie de “Mandela” em plena campanha eleitoral. Mas se, ou quando, isso ocorrer, o lulismo permanecerá xingando a institucionalidade enquanto continua a enfiar-se nela.

O rompimento institucional que alguns dirigentes petistas andam pregando não passa da tentativa de colocar muita gente nas ruas. Algo que tem muito pouco a ver com rompimentos institucionais.

Quisessem realmente radicalizar, poderiam sinalizar para a construção de uma greve geral. Uma paralisação nacional, quem sabe, talvez, desafiasse as instituições. Mas também não pode. Atrapalha as ambições eleitorais.

Prender Lula é um absurdo, claro. Mas o lulismo prefere ficar algemado à institucionalidade a negar sua fé nela. Até porque há poucas coisas tão institucionalizadas como as prisões.

Mas o problema mais grave surge quando grande parte da esquerda se dá conta de que também está algemada. Ao lulismo. 

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