Doses maiores

26 de setembro de 2017

Dois poderes e muita confusão na Rússia de 1917

“Tome o poder, seu filho da puta, quando ele é oferecido a você!". Esta frase foi dita por um marinheiro russo a um dirigente do soviete de Petrogrado, em julho de 1917.

No mesmo período, dirigentes do soviete de Petrogrado foram cercados por uma multidão raivosa. Tropas leais ao governo provisório apareceram para salvá-los. Salvá-los de quê? De que fossem obrigados a tomar o poder!

Essas situações mostram toda a confusão daquele momento do processo revolucionário. Dizem respeito a um fenômeno político que Lênin explicou em um artigo publicado alguns meses antes: “Uma particularidade extremamente notável da nossa revolução consiste em que ela gerou uma dualidade de poderes”.

Segundo o texto, essa dualidade opunha de um lado o Governo Provisório, “da burguesia” e, de outro, um “governo, ainda fraco, embrionário, mas indubitavelmente existente de fato e em desenvolvimento: os sovietes de deputados operários e soldados”.

O que Lênin e os bolcheviques defendiam era basicamente a transferência do poder do primeiro para o segundo governo.

O problema é que a esquerda moderada era maioria dentro dos sovietes. E insistia em respeitar o governo provisório, apesar de seus membros se recusarem a cumprir as tarefas exigidas pela Revolução de Fevereiro. Especialmente, a saída da Rússia da Primeira Guerra e a reforma agrária.

Nessa confusão toda, era preciso defender o lema “Todo o poder aos sovietes”, mas também obter uma maioria revolucionária no interior deles. Manter o fogo revolucionário aceso nas cidades, mas garantir o apoio do campo no imenso império russo.

E ainda há quem diga que a Revolução de Outubro não passou de um golpe palaciano.

Leia também: O “Trem das Onze” de Lênin

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