Doses maiores

24 de maio de 2017

A Revolução de 1917, segundo Leminski

Paulo Leminski escreveu uma pequena biografia de Trótski, que é também um brilhante sumário da Revolução Russa.

Comecemos por um acontecimento fundamental para a vitória de 1917. Trata-se da Revolução de 1905. Foi nela que surgiram os sovietes:

...uma forma primária e original de democracia popular, nascida sem interferência das elites revolucionárias da intelligentsia. Uma democracia de baixo para cima, trabalhadores votando livremente em seus representantes, acatando suas deliberações, acompanhando suas diretrizes.

“A elite revolucionária foi apanhada de surpresa”, diz o poeta. Segundo ele:

Num primeiro momento, sempre zeloso da unidade de esforços e do papel condutor do Partido, Lênin condenou os sovietes, a democracia soviética. Certamente, os sovietes lhe pareciam forças desagregadoras, dispersivas, centrífugas. O bom andamento da revolução, agora, teria que contar com a laboriosa orquestração de centenas de assembleias de trabalhadores, broncos, primários, teoricamente desequipados, comparados com os brilhantes quadros de marxistas bolcheviques e mencheviques.

Nessas alturas, nem Lênin nem Trótski ainda concebiam a ideia de uma revolução e de um Estado totalmente baseado na classe trabalhadora, operários e camponeses. Diante da fraqueza da classe trabalhadora, alguma espécie de coalizão com a pequena burguesia e os estratos semiproletários seria inevitável, para o êxito da Revolução.

O atraso histórico da Rússia justificava a dúvida: revolução burguesa ou proletária? E qual seria a parte que caberia ao proletariado, na nova sociedade?

Os dois revolucionários responderiam a essas questões de forma determinante para a vitória de 1917.

Leminski, o anarquista, não deixa de denunciar vários elementos de autoritarismo e conservadorismo presentes no processo revolucionário. Mas jamais diminui sua enorme importância histórica para a luta socialista.

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