Doses maiores

5 de abril de 2017

A volta do conservadorismo que nunca se foi

Um recente estudo da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, está ganhando razoável atenção de veículos da grande imprensa, como Estadão e Globo.

Uma pesquisa qualitativa entrevistou 63 eleitores de bairros pobres de São Paulo que votaram no partido entre 2000 e 2012, mas que não fizeram o mesmo em relação a Dilma Rousseff e Fernando Haddad nas eleições posteriores.

Segundo o Globo, a pesquisa mostraria “um vácuo entre discursos clássicos de partidos de esquerda e a realidade dos grupos pesquisados”. Para estes, não haveria “cisão entre ‘classe trabalhadora’ e ‘burguesia’”. Trabalhador e patrão são diferentes, mas “todos estão no mesmo barco”, afirmaram os entrevistados.

Também não existiriam polarizações como “coxinhas x petralhas” ou “conservadores x progressistas”. O principal confronto da sociedade não seria entre ricos e pobres, mas “entre Estado e cidadãos”, relata o jornal.

Lula é admirado menos pelas políticas de seus governos e mais por ser um caso típico de ascensão social. Assim como Sílvio Santos e João Doria, igualmente citados como vencedores que vieram de baixo.

Não deveria haver grande surpresa nessas conclusões. Afinal, Sílvio Santos já vem sendo exaltado como campeão do esforço individual há mais de meio século.

Surpreendente, mesmo, seria concluir que sob os governos petistas essas concepções tenham se enfraquecido para retomar a força repentinamente nos últimos três ou quatro anos.

Na verdade, a predominância dos valores conservadores não mudou muito nesse tempo todo. A não ser pelo fato de ter conquistado adeptos aos montes em quase toda a esquerda institucional.

A conclusão mais importante do estudo é indireta. Não foi o povo que se tornou mais conservador.

Leia também: Gramsci, conservadorismo e progressismo em São Paulo

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