Doses maiores

9 de setembro de 2016

O “Café-da-manhã da Xuxa” e a febre gourmet

No início dos anos 1990, ficou famoso o “Café-da-manhã da Xuxa” exibido diariamente na TV. Uma refeição matinal cheia de frutas, iogurtes, sucos, frios, bolos e pães. Enquanto isso, a audiência infantil das periferias olhava para o banquete com água na boca e barriguinhas roncando.

Em 2014, levantamento feito pelo Ibope indicou que a TV brasileira exibe 67 programas de culinária em mais de 70 canais abertos e pagos. Esta febre gourmet não seria o equivalente atual do café que a Xuxa exibia no século passado?

Se é verdade que a questão mais grave já não é a falta do que comer, o que preocupa é a qualidade do que ingerimos. Cozinhar fica cada vez mais difícil depois de jornadas de trabalho extensas e das muitas horas gastas em intermináveis engarrafamentos.

Assim, acabamos assistindo cozinheiros, cozinheiras e “chefs” em ação como vemos futebol. Bem longe do fogão e da bola.

É verdade que muitos desses programas incentivam uma alimentação mais saudável, com alimentos frescos e ingredientes naturais. Mas na vida real engolimos cada vez mais produtos industrializados, temperados com muito hormônio e agrotóxico.

Afinal, de acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, as vendas de pesticidas em 2015 chegaram a US$ 9,6 bilhões no Brasil. E, em 2014, foram mais de 914 mil toneladas de agrotóxicos comercializadas.

Talvez seja injusto comparar tudo isso ao café da Xuxa. Muitos já nem se lembram desse evento traumático de suas infâncias. Estamos ocupados demais tratando as patologias causadas por nossa ração química diária. E se a febre gourmet não denuncia, é cúmplice.

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