Doses maiores

9 de agosto de 2016

Escola sem Partido, mas dominada por ideologias conservadoras

O projeto Escola Sem Partido é pura desonestidade. A começar por seu nome, que procura transformar seus opositores em defensores de algo que não apoiam: o proselitismo político-partidário dentro das salas de aula.

A pretensão do projeto é combater a presença de qualquer ideologia nas escolas, seja de direita ou de esquerda.

Norberto Bobbio (1909-2004) é um respeitado filósofo italiano. Democrata liberal, sempre foi um crítico do marxismo. Em sua famosa obra "Dicionário de Política", o verbete “Ideologia” é assim descrito:

Tanto na linguagem política prática, como na linguagem filosófica, sociológica e político-científica, não existe talvez nenhuma outra palavra que possa ser comparada à Ideologia pela freqüência com a qual é empregada e, sobretudo, pela gama de significados diferentes que lhe são atribuídos.

A publicação também afirma que por Ideologia, os marxistas entendem “ideias e teorias que são socialmente determinadas pelas relações de dominação entre as classes”. Portanto, queiramos ou não, estamos sempre mergulhados em ideologia.

Segundo Gramsci, a ideologia dominante é formada por uma maçaroca de concepções de mundo, misturando religião, filosofia, valores tradicionais e modernos, crenças e preconceitos etc.

Mas toda essa confusão é conduzida de modo a levar à aceitação da sociedade tal como ela é, com suas injustiças e desigualdades. É a esta tarefa que se dedicam aparatos ideológicos como jornais, TVs, instituições religiosas e estatais, incluindo as próprias escolas.

A escola não deve ensinar ideologias. Deve desvendá-las. Mostrar seus condicionantes sociais e julgá-las segundo valores como solidariedade, igualdade, respeito à diferença, democracia, justiça social.

O contrário disso é querer impor o monopólio de apenas algumas ideologias. Principalmente, as conservadoras.

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