Doses maiores

27 de julho de 2016

Escravos de nossos monstros de bolso?

Em 24/07, Sérgio Telles publicou artigo no Estadão, argumentando que a recente febre de caça aos Pokemóns é “uma fuga à realidade tão antiga quanto o ser humano”.

O psicanalista lembra o que Freud dizia sobre não tolerarmos “um contato ininterrupto com a realidade”. Daí, precisarmos cortar diariamente o contato com ela através dos sonhos. Estes se equivaleriam à “realidade virtual” onde realizaríamos “os desejos que a realidade nos obriga a abandonar”.

As artes e, especialmente as narrativas, como a literatura e o cinema, diz ele, também seriam realidades virtuais. Mesmo de caráter ficcional, elas possibilitariam acessar "importantes verdades humanas que nos seriam inacessíveis sem elas”.

Alexandre Matias publicou artigo na mesma edição, afirmando que o “Pokemón Go vai transformar o mundo em uma enorme rede social”.

O jornalista recorda o historiador Johan Huizinga, que considerava a transformação da vida em jogo uma tendência natural do ser humano. Uma forma de buscarmos uma “consciência de ser diferente da ‘vida cotidiana’”.

Pokémon Go só iria além desses conceitos “ao trazer o jogo para a atividade online e offline simultaneamente”, conclui.

Mas por que tanto empenho em fugir da vida cotidiana? Seria um mal da essência humana ou de certa forma histórica de nos relacionarmos? Essa pressão psicológica não seria menor ou inexistente no dia-a-dia de nossos antepassados?

Talvez, tudo isso tenha a ver com a nossa crescente rendição à lógica das mercadorias. Afinal, Pokémon vem do inglês “pocket monster”, ou “monstro de bolso”. Esta parte de nosso vestuário que ganhou grande importância quando carregar dinheiro ou seus equivalentes passou a nos definir. Ou melhor, escravizar.

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