Doses maiores

8 de junho de 2016

Robotização e mal-estar social

Recentemente, a Suíça tentou aprovar uma remuneração mensal de R$ 9 mil para todos os seus cidadãos sem exigir qualquer trabalho ou outra contrapartida. Levada a plebiscito, porém, a proposta foi rejeitada.

Condições objetivas não faltariam. Com uma renda per capita de R$ 211 mil anuais e taxa de desemprego inferior a 4%, o país teria como viabilizar essa “utopia”, dizem os defensores da proposta.

Entre os vários argumentos favoráveis à proposta, está a crescente separação entre trabalho e renda provocada pela substituição da força de trabalho humana por tecnologias automatizadas.

"Robôs absorvem cada vez mais trabalho. É agora nosso dever reorganizar a sociedade de modo que a Revolução digital dê a todos uma vida digna...", afirma material de divulgação favorável à adoção da medida.

Mas, aí, faltou consultar o velho Marx, que em “O Capital”, escrevia há 150 anos:

...a maquinaria considerada em si reduz o tempo de trabalho, ao passo que aplicada capitalisticamente prolonga a jornada de trabalho, em si facilita o trabalho, mas aplicada capitalisticamente aumenta sua intensidade, em si representa uma vitória do homem sobre a força da natureza, mas aplicada capitalisticamente põe o homem debaixo do jugo da força da natureza, em si aumenta a riqueza do produtor, mas aplicada capitalisticamente o pauperiza...

Aplicar “capitalisticamente” significa manter a propriedade e o controle de processos produtivos globais inteiros nas mãos de uma minoria cada vez menor. Uma lógica incompatível com distribuição de riqueza, mesmo numa ilha de bem-estar como a Suíça. 

Para o capitalismo, o avanço tecnológico só serve para aumentar a exploração e o mal-estar social.

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