Doses maiores

3 de março de 2016

Donald Trump: tragédia nada acidental

A possibilidade de o bilionário ultraconservador Donald Trump ser eleito assusta até os ultraconservadores. Há quem o compare a Hitler ou Mussolini, com alguma razão.

Afinal, um e outro também chegaram ao poder por meios eleitorais. E em sistemas parlamentaristas, considerados mais equilibrados e confiáveis.

Ao contrário do que muita gente pensa, o sistema político estadunidense é mais parlamentarista do que presidencialista quanto a seus mecanismos eleitorais. E dos mais restritos, aliás.

Em primeiro lugar, o presidente não é eleito diretamente, mas por um colegiado formado por 538 delegados escolhidos nos estados. Para ser considerado vitorioso, o candidato precisa levar a este colegiado 270 representantes.

O problema é que o colégio eleitoral é composto de forma a favorecer os estados menos populosos. Assim, o presidente pode ser eleito sem ter obtido a maioria dos votos diretos. Foi o que aconteceu com George Bush, em 2000.

Há mais de 140 partidos legalizados, mas o sistema distrital favorece apenas republicanos e democratas. Na verdade, duas alas de um partido único. Só divergem quanto à melhor maneira de preservar os interesses da classe dominante.

Grande parte dos eleitores está encarcerada. São os pobres e negros que formam a grande maioria dos 2,3 milhões de presos americanos. A maior população carcerária do mundo.

A agravar todo esse quadro, a economia em frangalhos. Um exemplo: as vagas de trabalho no setor industrial caíram 36%, de 19,3 milhões, em 1979, para 12,3 milhões, em 2015. Enquanto isso, a população cresceu 43%, de 225 milhões para 321 milhões.

Se Trump for eleito, não será algo acidental, portanto. Ainda que venha a ser trágico.

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