Doses maiores

23 de março de 2016

A crise política e a apatia dos mais pobres

Eric Gil é economista do Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos. Em 19/03, publicou artigo comparando as manifestações dos dias 13 e 18, no portal Pragmatismo Político.

Utilizando dados do Datafolha sobre o perfil dos participantes das duas manifestações contra e a favor do governo, Gil concluiu que “as parcelas mais precarizadas e exploradas” não foram às ruas.

Afinal, diz ele, “em nenhuma das duas manifestações as pessoas com renda de até R$1.760,00 – que representam 29% da população paulistana – chegaram aos 10%”.

Raúl Zibechi é escritor e jornalista uruguaio. Em seus textos e depoimentos mais recentes, ele vem considerando que o ciclo de "governos progressistas" na América Latina está se esgotando.

Segundo ele, trata-se de uma forma de governo que usou a seguinte fórmula política: “Ante os ricos, apresenta-se como aquele que pode apaziguar os de baixo. E ante os de baixo, apresenta-se como o grande beneficiário com diversas políticas sociais”.

O problema, diz ele, é que “dissolvido esse cenário, os governantes não sabem como se manter”. O resultado são as atuais mobilizações de rua lideradas por setores de direita, de um lado, e a resposta insuficiente das esquerdas, de outro. No meio, a apatia dos maiores beneficiados pelas políticas públicas dos últimos anos.

Entre as principais razões dessa apatia, estaria o fato de que o “progressismo” melhorou os índices econômicos e sociais “promovendo o consumismo”. “Um desastre estratégico, pois anula a capacidade das camadas mais pobres de se tornarem classe”, diz Zibechi.

São explicações a serem debatidas. Mas uma coisa é certa: o precário ciclo progressista na região vai tendo um fim entre trágico e patético.

Textos de Zibech:
América Latina: as bases sociais da nova direita

A opção que não transformou e que perdeu o fôlego.

Leia também:
Emendas à Lei Antiterrorismo e outras notas

Um comentário:

  1. maiores beneficiados pelas políticas públicas dos últimos anos estão apáticos? Não estão.

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