Doses maiores

24 de janeiro de 2016

Um conto imoral

A imprensa divulgou um estudo mostrando que alguns contos de fadas podem ter até 6 mil anos.

Quem sabe daqui a alguns séculos, futuros historiadores descubram algumas das fábulas de nossa época e a compreendam melhor. Um exemplo poderia ser o caso relatado por Dorrit Harazim no Globo, de 24/01. Em “Nas franjas da sociedade”, era uma vez a cidade Flint no estado de Michigan, Estados Unidos.

Flint tornou-se famosa pelo documentário “Roger e eu”, de Michael Moore, que descreve o abandono a que foi condenada depois que a indústria automotiva a deixou nos anos 1980. Como, desde então, as coisas só pioraram, o lugar recebeu o que os neoliberais gostam de chamar de choque de gestão.

Em 2012, o governador nomeou alguns técnicos para administrar a cidade com poderes maiores do que os representantes eleitos. Entre as medidas mais absurdas, em 2014, essa turma desligou a cidade do sistema hídrico de Detroit e passou a captar as águas poluídas do rio Flint, gerando uma economia anual de US$ 2 milhões.

Mas o que começou a sair das torneiras das casas foi um líquido amarelo contaminado por chumbo, causando doenças de todos os tipos. E ferver a água só aumenta a concentração venenosa. Até a unidade local da General Motors parou de usar a água pelos problemas que vinha causando suas máquinas, mas a população continua obrigada a utilizá-la.

Recentemente, depois de muita mobilização, a população de Flint conseguiu chamar a atenção da grande mídia e das autoridades. Mas não muito mais que isso.

Fim do conto e não adianta procurar moral alguma nessa história.

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