Doses maiores

25 de janeiro de 2016

A China e os delírios que a cercam

“Recuperação dos EUA é êxito da economia de mercado” diz editorial do Globo de 24/01. O texto começa identificando uma “fase de assincronia” na economia mundial, comparando a “recuperação” da economia americana com a desaceleração da China, “segundo maior parque produtivo mundial”.

Para o Globo, este momento:

... serve para comparações entre os dois modelos: o de um capitalismo selvagem de Estado, sob um regime ditatorial de partido único, e o outro, uma economia de mercado assentada numa sólida democracia representativa e em uma sociedade aberta.

Estranha “democracia representativa” esta, em que 10% da população fica com metade de toda a renda do país. E o que dizer de uma “sociedade aberta” que colocou 47 milhões abaixo da linha da pobreza?

Mas o que realmente não faz sentido é omitir que a China só se tornou o “segundo maior parque produtivo mundial” por que o grande capital ocidental, liderado pelos Estados Unidos, foi buscar lá a força-de-trabalho abundante e barata que a ditadura do partido único colocou a sua disposição.

É por isso que chega a ser delirante achar que os problemas da economia chinesa servirão como prova de que o modelo “socialista” ou “comunista” fracassou. Na verdade, só mostrarão que a integração da economia chinesa ao capitalismo mundial não trouxe apenas imensos lucros e mais concentração de riqueza e poder para alguns poucos. Também acumulou contradições que ameaçam toda a economia global.

Mas o pior, mesmo, é ver o Globo ter o gostinho de citar o entusiasmo igualmente delirante que boa parte da esquerda manifesta em relação ao desastroso capitalismo de estado chinês.

Leia também: China: a fábrica do mundo não pode produzir liberdade

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