Doses maiores

30 de julho de 2015

Lévi-Strauss e os homens que vomitamos

São 10 milhões, aproximadamente, as pessoas encarceradas no mundo. Os campeões são Estados Unidos (2,2 milhões de pessoas presas), China (1,6 milhões), Rússia (731 mil) e Brasil (514 mil).

Mas 60 anos atrás, em seu livro “Tristes Trópicos”, o antropólogo Lévi-Strauss já se preocupava com os “costumes judiciários e penitenciários” de nossa civilização ponderando o seguinte:

Estudando-os do exterior, seriamos tentados a opor-lhes dois tipos de sociedades: as que praticam a antropofagia, isto é, as que veem na absorção de certos indivíduos detentores de forças temíveis, o único meio de neutralizá-las e mesmo de aproveitá-las; e as que, como a nossa, adotam o que se poderia chamar a “antropoemia” (do grego “emein”, vomitar); postas diante do mesmo problema, escolheram a solução inversa, que consiste em expulsar esses seres temíveis para fora do corpo social, mantendo-os temporária ou definitivamente isolados, sem contato com a humanidade, em estabelecimentos destinados a esse fim. À maioria das sociedades que chamamos "primitivas", esse costume inspiraria um horror profundo; ele nos marcaria aos seus olhos da mesma barbárie que seríamos levados a imputar-lhes devido aos seus costumes simétricos. Sociedades que, sob certos aspectos, nos parecem ferozes, sabem ser humanas e benevolentes quando as encaramos por outro.

No início de julho, um funcionário da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão informou que houve, pelo menos, dois casos de canibalismo entre os internos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís.

Como se vê, o país que ocupa o quarto lugar em encarceramento no mundo supera a oposição apontada por Lévi-Strauss chegando a uma síntese muito indigesta. Vomitamos homens e também os fazemos devorarem-se.

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