Doses maiores

12 de julho de 2015

A rotina dos linchamentos diários

Mais dois casos de linchamento aparecem nos jornais. Um no Maranhão, outro no Rio de Janeiro. O sociólogo José de Souza Martins é considerado autoridade na questão. Entrevistado pelo portal do El País, em 08/07, ele fez afirmações assustadoras.

Em primeiro lugar, o estudioso disse que acontece
um linchamento por dia em média, no Brasil. A atenção despertada pelos dois casos recentes seria “mais pelas imagens, que pelo fato de ter virado rotina.”

Em segundo lugar, há as particularidades racistas envolvidas nesse tipo de fenômeno. Segundo Martins:

Nos primeiros dez minutos, o padrão se repete e não há nenhuma diferença. Independentemente de a vítima ser branca ou negra, você vê pedradas, pauladas, pontapés. A diferença se manifesta no decorrer do ato, de forma muito mais sutil do modo como o racismo é concebido no Brasil. Ele se torna mais violento. Se o linchado for negro, a probabilidade de aparecerem outros componentes mais violentos como mutilação, furar olhos ou queimar viva a vítima, aumenta.

A afirmação é terrível. O racismo tal como “concebido no Brasil” consegue apresentar suas gradações até em casos extremos como o dessas ações cruéis e covardes.

Por fim, Martins também afirma que em 90% dos casos de linchamento, é a polícia que salva a vítima. Provavelmente, a polícia mais violenta do mundo enxerga nessas ações um desrespeito ao monopólio que exerce no julgamento e execução sumários.

Há quem veja nessas ações o povo fazendo “justiça com as próprias mãos”. Mas não há qualquer justiça envolvida nessas iniciativas. É apenas a sociedade castigando a si mesma, diária e rotineiramente avançando para a barbárie social.

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