Doses maiores

23 de junho de 2015

O ambientalismo poluído do Vaticano

     Mick  Stevens
“Laudato Si”, a mais recente bula papal, vem causando sensação. A começar pelos contratos que a Editora Vaticana assinou com 11 editoras. O documento em defesa do meio ambiente pode ser lido na internet, mas muitos preferem a cópia papel, apesar de seu impacto ecológico.

Ironias à parte, o decreto tem sido tratado como uma revolução na tradição católica. Artigo de John L. Allen Jr., publicado pela IHU-Online em 19/06, mostra que não é bem assim.

Segundo o texto, documentos semelhantes já vêm sendo publicados pelo Vaticano há décadas. Em 1971, Paulo 6º editou a “Octogesima Adveniens”, primeiro texto a conter um parágrafo inteiro dedicado ao meio ambiente.

Em 1988, João Paulo 2º defendeu “um meio ambiente natural seguro e saudável” como um direito no mesmo nível do direito a saúde, educação e dignidade. Convocava, ainda, a humanidade a arrepender-se pelos pecados cometidos contra a natureza.

Em 2007, Bento 16 anunciou a “Floresta Ambiental Vaticana”, criada na Hungria para compensar as emissões anuais de CO2 do Vaticano. Era a colaboração papal para a farsa do mercado de carbono.

Mas Allen Jr alerta para aquilo que realmente importa na iniciativa de Francisco. A bula transforma a Igreja Católica no principal representante moral no combate ao aquecimento global e suas consequências.

De fato, os discursos oficiais sobre destruição ambiental costumam citar apenas seus custos econômicos. A iniciativa papal diferencia-se por discutir valores éticos. O problema é que em questões morais a cúpula católica é de um conservadorismo extremo.

Muito mais provável é o Vaticano poluir suas recentes posturas ambientalmente limpas com a sujeira de suas doutrinas fundamentalistas.

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