Doses maiores

12 de janeiro de 2015

Pisoteando os cadáveres do Charlie Hebdo

Há quem compare o episódio Charlie Hebdo ao 11 de Setembro. Pode parecer exagero, mas não em um aspecto. Tal como em 2001, uma ação estúpida e trágica se torna um grande trunfo do conservadorismo. A destruição das torres gêmeas forneceu o pretexto perfeito para inaugurar uma das épocas mais autoritárias e repressivas da história moderna. O massacre de Paris tem tudo para reforçar esta lógica.

O Charlie é uma publicação anticapitalista cuja linha editorial desagrada muitos setores da esquerda. Mas à grande mídia mundial interessa destacar apenas as grosserias de seu humor. Desse modo, pretende legitimar suas próprias patifarias em nome de uma “liberdade de expressão” que está sob seu controle quase absoluto.

Os principais portais de notícias começaram anunciando a presença de mais de 1 milhão de pessoas nas ruas de Paris, em 11/01. Em toda a França, as multidões teriam chegado a 3,7 milhões, segundo Folha e Estadão e 4,5 milhões, para o Globo. Enquanto isso, estes mesmos jornais reduziram uma manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo de 30 mil para 2 mil participantes.

O fato é que a mobilização chapa-branca francesa reuniu o que há de pior entre os chefes de Estado do mundo. É o caso de Angela Merkel, que declarou em 2010: “Sentimo-nos ligados a valores cristãos. Quem não aceitar isto, não tem lugar aqui (na Alemanha)”. Ou de Benjamin Netanyahu, o primeiro ministro israelense que ordenou o massacre de Gaza há apenas seis meses.

Gente desse tipo manifesta luto pela equipe do Charlie Hebdo, enquanto pisoteia seus cadáveres. E espera novos funerais ansiosamente.

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