Doses maiores

4 de dezembro de 2014

Uma Comissão Nacional da Verdade para as empreiteiras

A Comissão Nacional da Verdade defende a mudança do nome de várias obras públicas do país. Seriam aquelas batizadas em homenagem a envolvidos com torturas e desaparecimentos durante a ditadura de 1964.

Muito justo. Mas essas obras, em geral, celebram mortos. Enquanto isso, muitos carrascos da ditadura estão vivos e longe de responder à Justiça por seus crimes. Por outro lado, a Comissão poderia aproveitar o assunto e investigar também as empreiteiras que construíram as tais obras.

Muitas dessas empresas também continuam por aí, vivas até demais. É o caso de Odebrecht e Camargo Corrêa. Ambas estão atualmente sob investigação na chamada Operação Lava-Jato. Mas suas ações ilegais vêm de um momento bem mais longínquo no passado. E muito mais obscuro.

É o que afirma Pedro Henrique Pedreira Campos em entrevista à Folha, publicada em 01/12. Ele é autor do livro "Estranhas Catedrais - As Empreiteiras Brasileiras e a Ditadura Civil-Militar". Segundo Campos, o setor teve participação ativa no golpe militar “e conseguiu se manter próximo ao Estado mesmo após a redemocratização”.

Não à toa, os casos de corrupção envolvendo as empreiteiras só vieram à luz há uns 30 anos. Antes, as negociatas ficavam no escuro graças à censura imposta pela ditadura.

Agora, executivos dessas poderosas corporações foram detidos. Um fato positivo, diz Campos. Mas “os donos das empresas, os empreiteiros de fato, não estão presos”, avisa ele. Por enquanto, como seu antigos sócios fardados, eles permanecem impunes.

Continuam a se dar bem, mesmo sob um governo que pretende representar os interesses de algumas de suas maiores vítimas, nos cárceres e nos canteiros de obras.

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