Doses maiores

7 de julho de 2014

As joelhadas na democracia

Em abril passado, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, afirmou:

Eu vou dizer uma coisa que é maluca, mas menos democracia, às vezes, é melhor para organizar uma Copa. Quando você tem um chefe de estado forte, que pode decidir, como talvez Vladimir Putin na Rússia em 2018, é mais fácil para nós, organizadores...

A repórter Daniella Franco, da agência RFI, publicou em 02/07 “Brasil pode ser a última democracia a organizar uma Copa do Mundo”. A matéria refere-se não apenas à Rússia, mas à monarquia conservadora árabe do Dacar, que deve sediar o evento em 2022.

De qualquer maneira, Valcke não tem do que reclamar. Afinal, a Fifa assumiu o comando de várias atividades do País sem maiores problemas. Exclusividade no comércio de bebidas e alimentos no entorno das sedes dos jogos, praticando preços de monopólio. Imposição da construção de estádios, que, em sua maioria, deve se transformar em elefantes brancos. Tudo a um custo social enorme, com a remoção de cerca de 250 mil famílias de suas casas para a construção de obras de utilidade duvidosa a preços abusivos.

Como se não bastasse, tudo isso contou com a proteção armada dos governantes do País, que colocaram exército e polícias a serviço do torneio. E, neste caso, a democracia foi ferida gravemente. É o que mostra, por exemplo, a recente prisão de advogados que acompanhavam a manifestação da Praça Roosevelt em São Paulo, em 01/07.

A Fifa não prefere apenas regimes antidemocráticos. Também ensina autoritarismo aos governos que lhe são submissos. A democracia é outra vítima das joelhadas pelas costas dos que organizam a Copa.

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