Doses maiores

8 de outubro de 2013

Velhas músicas para novos protestos

Época estranha, a nossa. Não estamos sob uma ditadura política, mas certas canções da época em que os generais mandavam parecem ter se atualizado.

É o caso “Plataforma”, samba de João Bosco e Aldir Blanc, de 1977:

Não põe corda no meu bloco, / não vem com teu carro-chefe, / não dá ordem ao pessoal. / não traz lema nem divisa / que a gente não precisa / que organizem nosso carnaval. / não sou candidato a nada, / meu negócio é madrugada / mas meu coração não se conforma. / o meu peito é do contra / e por isso mete bronca / nesse samba-plataforma: / por um bloco que derrube esse coreto / (...) que sacuda e arrebente / o cordão de isolamento.

Tudo a ver com a rebeldia que está nas ruas.

Outra música que merece nova escuta é “Acorda Amor”, que Chico Buarque lançou sob o pseudônimo de Julinho de Adelaide em 1974:

Acorda amor / Eu tive um pesadelo agora / Sonhei que tinha gente lá fora / Batendo no portão, que aflição / Era a dura, numa muito escura viatura / Minha nossa santa criatura / Chame, chame, chame lá / Chame, chame o ladrão, chame o ladrão.

A letra ironizava a triste situação da época. Diante da chegada da polícia da ditadura, era mais seguro chamar o ladrão.

A música ficou no passado, mas a violência oficial que ela denunciou continua presente. Em manifestações, nas favelas e bairros pobres continua sendo preferível chamar os ladrões. Pelo menos aqueles que não estiverem ocupados governando, legislando e financiando políticos profissionais.

2 comentários:

  1. Não precisa ser gênio para concluir que elas são atuais porque a situação estruturalmente não mudou.
    Tomara algum dia sejam ouvidas como lembrança de uma época que superamos para nunca mais voltar.

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    1. Que as musas dos poetas os privem desse tipo de inspiração, então!
      Abraço!

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