Doses maiores

29 de outubro de 2013

O saber automático por trás do preconceito

Em 26/10, O Globo publicou a entrevista “Neurocientista põe em xeque o inconsciente de Freud”. Trata-se do depoimento do físico Leonard Mlodinow, autor do best-seller “O andar do bêbado”. Opondo-se ao que defenderia a psicanálise, ele afirma que “ninguém conseguirá acessar seu inconsciente pensando e falando”. Nada surpreendente, vindo de alguém formado em Física.

De qualquer maneira, Mlodinow faz uma afirmação da qual é difícil discordar. Em relação ao preconceito, ele diz:

Existem dois tipos de preconceito: o deliberado, que hoje é menos prevalente, e o inconsciente. Neste último tipo, a pessoa realmente acha que não é preconceituosa; há casos, inclusive, em que ela pode até ser militante daquela causa. Mas testes detectam que há preconceito. Estudos mostraram que mesmo negros acabam fazendo associações raciais negativas inconscientes. Somos bombardeados por imagens negativas e estereotipadas de mídias como TV, cinema e internet. E a nossa mente inconsciente tende a generalizar para simplificar.

Muitos cientistas sociais concordariam. Algo parecido foi dito, por exemplo, em um artigo do sociólogo Muniz Sodré. Com o título “Diversidade e diferença”, o texto foi publicado na “Revista Científica de Información y Comunicación”, em 2006, na Espanha. Um trecho afirma:

Você vê alguém com um turbante na cabeça e pensa que já sabe tudo sobre ele, que é, por exemplo, árabe, logo, islamita, logo investido de determinada disposição frente ao mundo. O racismo apresenta-se geralmente como esse “saber automático” sobre o Outro. Os preconceitos funcionam assim na prática: valem para qualquer outra forma diversa.

Saber automático. Eis uma das principais bases da intolerância. E a grande mídia é uma de suas maiores difusoras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário