Doses maiores

25 de outubro de 2013

A violência dos motins é a voz dos que não são ouvidos

Em 22/10, o professor de Filosofia Vladimir Safatle publicou artigo na Folha com o título “Violência e silêncio”. Em um trecho, ele diz que a política brasileira tem se transformado “na arte do silêncio”. Ou seja:

Arte de passar em silêncio sobre democracia direta, como pagar dignamente professores, como implementar uma consciência ecológica radical, como quebrar a oligopolização da economia, como taxar mais os ricos e dar mais serviços aos pobres. Mas também a arte de tentar silenciar descontentes.

É como diz a música do Rappa, “Paz sem voz, não é paz. É medo”. E esta tem sido a lógica que impera na pacificação que as UPPs levaram às favelas cariocas, por exemplo.

Felizmente, os desafios a esta ditadura do mutismo costumam ser bem barulhentos. É o que provam as manifestações que não param de acontecer desde junho. Mas outros povos também passam e passaram por isso. É o caso dos negros estadunidenses.

O levante negro por direitos civis marcou a década de 1960 nos Estados Unidos. Manifestações violentas se multiplicaram. Vitrines destruídas, automóveis queimados, policiais atacados. Martin Luther King foi a principal liderança do movimento. Era pacifista, mas dizia que a violência dos motins era a “voz dos que não são ouvidos”.

O fato é que a surdez do poder político tem sido regra na história do capitalismo. Ao contrário do que parece, até um direito calado como o voto universal levou muitas décadas para ser aceito pela burguesia. E as recentes imagens de parlamentos europeus aprovando leis antipopulares cercados por multidões furiosas provam que nada mudou demasiado.

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