Doses maiores

3 de março de 2013

Uma Comissão da Verdade para a escravidão?

Pesquisa da University College, de Londres, indica que pelo menos “um quinto da riqueza dos britânicos da Era Vitoriana guardava relação com a escravidão”. É o que diz a reportagem “Revelado elo entre escravidão e riqueza de ingleses”, de Maurício Hashizume publicada pela agência Repórter Brasil, em 27/02.

O estudo apresenta detalhes como os “valores e nomes de donos de escravos que foram beneficiados com indenizações públicas após a abolição”. Entre eles, antepassados do atual primeiro-ministro inglês, David Cameron, do Partido Conservador, e do escritor George Orwell, autor de “1984”.

E não se trata apenas “do retorno financeiro obtido pelo próprio negócio da escravidão transatlântica”, diz Hashizume. Os comerciantes de pessoas também foram fartamente indenizados pela abolição da escravidão. Os dados mostram que esses pagamentos vergonhosos estão na raiz de muitas das atuais fortunas britânicas.

Catherine Hall, pesquisadora-chefe do estudo, explica que “o negócio da escravidão contribuiu de forma significativa para a Grã-Bretanha tornar-se a primeira nação industrial”. Ou seja, para viabilizar o capitalismo, cujo nascimento está marcado pela prisão, tortura e morte de milhões de africanos e indígenas.

No Brasil, seria impossível fazer levantamento parecido. Os documentos referentes à escravidão foram queimados logo depois de sua abolição. Mas este nem é o maior problema. A Comissão da Verdade para os crimes da ditadura militar até tem acesso a alguma documentação. Apesar disso, dificilmente haverá punição para torturadores e assassinos.

Na Inglaterra ou aqui, as instituições não foram feitas para fazer justiça aos explorados e humilhados. Estes terão que buscá-la com seus próprios meios.

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