Doses maiores

27 de fevereiro de 2013

Primavera árabe: melhor o caos que o despotismo

Gilbert Achcar concedeu entrevista ao jornal Le Monde em 25/02. Ele é libanês, analista do mundo árabe contemporâneo e professor da School of Oriental and African Studies, de Londres. Com o título “Há que passar pela experiência do islamismo no poder”, o depoimento começa destacando o caráter de longa duração do processo revolucionário na região.

Referindo-se à situação no Egito, Achcar afirma que o governo caiu, mas não o regime. A Irmandade Islâmica assumiu o poder por ser a única grande força organizada de oposição ao antigo governo. Mas paga um preço alto por isso. Segundo Achcar, a organização muçulmana construiu-se como força de oposição:

...com um slogan simplista: o Islã  é a solução. É algo completamente oco, mas funcionava num contexto de miséria e de injustiça no qual se podia vender essa ilusão. Os islâmicos são traficantes do ópio do povo. Desde o momento em que estão no poder, isso já não é possível. São incapazes de resolver os problemas das pessoas.

Assim, o desgastante exercício do poder poderia abrir caminho para forças verdadeiramente revolucionárias. Mas trata-se de possibilidade, não de certeza. Perguntado sobre um suposto complô imperialista por trás das revoluções na região, o professor responde:

Se, por oportunismo, as insurreições populares são apoiadas por potências imperialistas, não justifica que apoiemos as ditaduras. A teoria do complô americano é grotesca. (...) É claro que, depois de quarenta anos de totalitarismo, o que chega é o caos, mas, como diria Locke, prefiro o caos ao despotismo, porque no caos tenho uma opção.

Os revolucionários não precisam apostar no caos. Mas jamais devem aceitar o despotismo.

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