Doses maiores

21 de janeiro de 2013

Tarantino atira no racismo, mas só pega de raspão

Como todo filme de Tarantino, “Django livre” é tão violento que chega a ser divertido. Mas, desta vez, as gargalhadas valem o ingresso.

Com uma exceção, todos os personagens brancos são racistas da pior espécie. Quando Django massacra cada um, só nos resta vibrar de alegria. Inclusive, quando entre os mortos está um velho negro nojentamente puxa-saco.

O grande problema é exatamente a exceção branca. Trata-se do alemão Schultz, responsável por dar a Django a chance de executar sua vingança por anos de cruel cativeiro. Daí, a justa indignação de muitos críticos. O benfeitor do filme é um europeu. E ainda por cima, alemão!

Mas Tarantino deixa alguns recados. Schultz é caçador de recompensas. Diz que só se diferencia dos mercadores de negros porque negocia corpos mortos. Dá a entender que é tão movido pelo dinheiro como os escravocratas.

O personagem interpretado por Leonardo Di Caprio é um racista mimado e cruel. Adora a sofisticação francesa. É fã dos Três Mosqueteiros, mas permite que seus cães comam vivo um escravo rebelde. Quando Schultz lhe explica que Alexandre Dumas era negro, fica com cara de Homer Simpson.

O final do filme costuma arrancar aplausos da plateia. Mas entre os que aplaudem podem estar muitos que só desprezam um racismo explícito demais. Preferem sutilezas discriminatórias mais eficientes, com resultados igualmente cruéis. É o caso de nosso racismo. É mais discreto, mas mata jovens negros aos montes.

O fato é que o racismo não será derrotado com tiros e explosões. Nem as revoluções mais radicais conseguiram isso. E esta é uma das razões de terem sido derrotadas.

Leia também: “Mortes de negros não chocam”

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