Doses maiores

6 de novembro de 2012

Sociólogo bom é sociólogo chato

Em seu livro “O que falar quer dizer”, Pierre Bourdieu diz que os sociólogos devem ser “desmancha-prazeres”. Realmente, pouca gente aguenta conversa de sociólogos. Mas não é a isso que Bourdieu se referia. O trecho abaixo ajuda a esclarecer:

Levar à consciência os mecanismos que tornam a vida dolorosa, inviável até, não é neutralizá-los; explicar as contradições não é resolvê-las. Mas, por mais cético que se possa ser sobre a eficácia social da mensagem sociológica, não se pode anular o efeito que ela pode exercer ao permitir aos que sofrem que descubram a possibilidade de atribuir o seu sofrimento a causas sociais e assim se sentirem desculpados; e fazendo conhecer amplamente a origem social, coletivamente oculta, da infelicidade sob todas as suas formas, inclusive as mais íntimas e as mais secretas.

A passagem acima é do livro “A Miséria do mundo”, também de Bourdieu. De origem pobre, Bourdieu tornou-se um dos mais prestigiados cientistas sociais do mundo. Dedicou grande parte de sua produção a mostrar como diferenças sociais consideradas naturais não passam de imposições da estrutura de dominação.

Ou seja, trata-se de estragar a festa dos poderosos, que justificam sua dominação com todo tipo de discriminação. Desde preconceitos óbvios como os de cor, até conceitos aparentemente neutros como “inteligência”, “bom gosto”, “vocação”, “sofisticação” etc.

Mas não basta ser chato. Segundo Bourdieu, também é preciso ser “cúmplice da utopia”. O sociólogo francês morreu há dez anos. Durante sua vida travou muitas batalhas contra a grande mídia e o neoliberalismo. Algo que costuma dar muito prazer aos sociólogos que não abrem mão de um bom combate.

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