Doses maiores

9 de novembro de 2012

Os índios e o anjo desesperado

O conceito de “progresso” é tão desastroso que Walter Benjamin o retratou da seguinte forma:

Há um quadro de Klee intitulado Angelus Novus. Representa um anjo que parece preparar-se para se afastar de qualquer coisa que olha fixamente. Tem os olhos esbugalhados, a boca escancarada e as asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Voltou o rosto para o passado. A cadeia de fatos que aparece diante dos nossos olhos é para ele uma catástrofe sem fim, que incessantemente acumula ruínas sobre ruínas e as lança a seus pés. Ele gostaria de parar para acordar os mortos e reconstituir, a partir dos seus fragmentos, aquilo que foi destruído. Mas do paraíso sopra um vendaval que se enrodilha nas suas asas, e que é tão forte que o anjo já não as consegue fechar. Esse vendaval arrasta-o irresistivelmente para o futuro, para o qual está de costas, enquanto o monte de ruínas à sua frente cresce até ao céu. Aquilo a que chamamos o progresso é este vendaval. (Teses sobre filosofia da história – 1940)

Neste exato momento, o olhar espantado do “anjo da história” também estaria voltado para os indígenas brasileiros. Eles simbolizam as vítimas de um progresso que só serve aos interesses de grandes grupos econômicos.

Também causaria espanto ao anjo ver os governos cultuadores do “desenvolvimento” abrindo caminho para o desrespeito a direitos e a destruição de culturas. Desprezando os riscos de semear tempestades.

Que seja como na música de Caetano: “Depois de exterminada a última nação indígena”, o Índio virá. “Impávido que nem Mohammed Ali”. “Tranquilo e infalível, como Bruce Lee”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário