Doses maiores

1 de outubro de 2012

Capitalismo: vamos acabar com esse barulho

Em seu livro “A afinação do mundo”, de 1977, o ecologista acústico Murray Schafer diz que antigamente, os sons eram “ligados aos mecanismos que os produziam. A voz humana somente chegava tão longe quanto fosse possível gritar”.

A Revolução Industrial chegou e ”introduziu uma multidão de novos sons, com consequências drásticas para muitos dos sons naturais e humanos que eles tendiam a obscurecer”. A “Revolução Elétrica” traria mais efeitos sonoros amplificados e multiplicados.

O resultado é a poluição sonora, que causa crescentes problemas de audição. Até as baleias estão ficando surdas devido aos milhares de navios que cruzam os oceanos anualmente. Por outro lado, cada vez mais gente vive com aparelhos ruidosos conectados aos ouvidos.

Yi-Fu Tuan, no livro “Espaço e Lugar: a perspectiva da experiência”, acha que essa busca por isolamento acústico acontece porque “as pessoas querem esquecer o sistema espaço-tempo ligado aos objetivos, muitos destes percebidos como privados de atrativos ou significados”. E que objetivos seriam estes? Podemos deduzir que é a busca cega por lucros que sacrifica o bem-estar da grande maioria.

Mas nem tudo está perdido. Schafer cita pesquisas de Howard Broomfield que mostrariam a influência das estradas de ferro no nascimento do jazz. As “blue notes” típicas do ritmo negro teriam sido inspiradas no “lamento dos apitos das velhas locomotivas a vapor”, por exemplo. E “o claque-claque das rodas sobre os trilhos” estaria na origem da batida percussiva do jazz e do rock.

Isso mostra que a criatividade humana é capaz de arrancar beleza até desse pandemônio sonoro. Mas será muito melhor quando nos livrarmos de toda a zoeira capitalista.

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