Doses maiores

10 de setembro de 2012

Somos todos “mortos que andam”

Os mortos-vivos fazem cada vez mais sucesso nas mídias de entretenimento. O maior deles é "The Walking Dead”. Os “mortos que andam” surgiram, primeiro, nos quadrinhos de Robert Kirkman e Tony Moore. Depois viraram um dos seriados de maior audiência na TV paga.

Os chamados zumbis nunca foram tão populares como outras criaturas assustadoras. Diferente de vampiros e lobisomens, por exemplo, os mortos-vivos são muito passivos. Então o que explicaria todo esse sucesso recente?

Em Walking-Dead, o mais assustador são as pessoas, não os zumbis. Enquanto os mortos cambaleiam desajeitados, os vivos guerreiam entre si selvagemente. E quando não fazem isso, sofrem com suas relações afetivas, problemas familiares, preconceitos, racismo, neuroses, relações de poder etc.

Na vida real, todo morador das grandes cidades cruza com centenas de pessoas por dia. A grande maioria delas, perfeitas desconhecidas. São corpos que se movem, passam uns pelos outros, mas representam pouco uns para os outros. Nada sabem sobre os conflitos, alegrias, conquistas e derrotas umas das outras.

É possível que o segredo do sucesso de Walking-Dead seja este. Vivemos em sociedades de massa. Estamos cada vez mais juntos, misturados e solitários. Mesmo a família nuclear dispersou-se pelos cômodos da casa. Cada um com sua TV, computador, celular. Lá fora, um mundo perigoso e caótico.

Nada disso quer dizer que não tenhamos nossas batalhas para travar. Muitas delas, cansativas e perigosas. Mas as enfrentamos quase solitariamente. Os estranhos que passam por nós todos os dias são mortos que andam. E representamos o mesmo para eles. Muito conveniente para os que nos dominam. Assustador para todos.

Leia também: Asterix contra Sarkozy

3 comentários:

  1. Tenho um post que dialoga com este seu
    http://nutellacongelada.wordpress.com/2010/09/06/desconsolacao/

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  2. Eu vou comentar!!! rsrs
    O George Romero, "pai dos zumbis", sempre retrata os mortos como uma metáfora da nossa sociedade dos vivos. No Dawn of the Dead, segundo filme da "quadrilogia" dele, ele retrata os zumbis todos caminhando pro shopping center da cidade. Um dos personagens percebe isso e comenta que eles simplesmente repetem aquilo que costumavam fazer em vida. Na verdade, nós é que estamos todos mortos, transformados em zumbis pelo consumo!

    No Day of the Dead também tem uma passagem semelhante, mas eu não vou contar pq estrago o final do filme, hehehe

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    1. Sim!! Escrevi sobre isso em 2005:
      Na "Terra dos Mortos", junte-se ao time dos não vivos
      George Romero explicou seu último filme com a seguinte frase: "Sempre achei que os zumbis são a classe operária na sociedade dos monstros". Com essa dica, é possível ver no filme uma crítica ao capitalismo. A nós cabe nos juntar aos zumbis contra os monstros. Por Sergio Domingues, julho de 2005.
      http://www.piratininga.org.br/novapagina/leitura.asp?id_noticia=50&topico=Cinema

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